No mundo das séries, os primeiros seis meses provaram muita coisa. A Netflix, por exemplo, tem condição de fazer drama inteligente fugindo da pasteurização que lhe é familiar. Teve também a confirmação de que programa cancelado não é, necessariamente, um fracasso. Além da sequência de boas produções nacionais, baseadas em histórias reais ou não.
O Diário de Séries selecionou as dez melhores séries de 2023 (até agora), passando pelo Brasil, França, Japão, Reino Unido… Foram consideradas apenas atrações exibidas em território brasileiro de 1º de janeiro até 27 de junho. Confira:
A Diplomata
Sem pirotecnias, A Diplomata destoa de tantas criações feitas pela Netflix na linha de produção. Toda a estrutura narrativa se sustenta na base do diálogo. Não tem truques, efeitos… Nada disso. E as conversas entre os personagens caminham precisamente em uma trilha ideal, sem ser didática ao extremo e muito menos cifrada, com construções difíceis de entender.
O modus operandi da diplomacia é escancarado no drama. O protagonismo é de Keri Russell (The Americans), que interpreta Kate Wyler. Perita nesse universo, mas nos bastidores, ela é jogada para o centro das atenções após um porta-aviões britânico ser alvo de um ataque no Oriente Médio, causando várias mortes e iniciando uma tensão bélica entre o Reino Unido, Estados Unidos e Irã, este o principal suspeito de orquestrar o tal ataque. Sua missão é resolver o impasse criado.
A comédia A Máquina do Destino tem como protagonista o ótimo Chris O’Dowd (Get Shorty). Ela conta a história de uma pequena cidade que tem seu destino alterado após a chegada de uma misteriosa máquina no mercadinho local. A engenhoca promete revelar o potencial de vida de cada morador.
Dusty Hubbard (O’Dowd), homem de família e professor do ensino médio, aparentemente contente e animado com tudo, vê todos à sua volta reavaliando suas escolhas de vida e ambições, baseados no que a máquina diz. Ele é forçado a questionar se é realmente tão feliz quanto pensa.
O legal da série é que cada episódio dedica um tempo a mais a um único personagem, conforme destacado nas vinhetas de abertura. Isso torna a experiência de acompanhar a história ainda mais interessante.
Há 10 anos nessa empreitada de produzir atrações originais, o Prime Video tem com Daisy Jones & The Six uma chance inédita. Pela primeira vez, o streaming da Amazon conta com uma produção forte para brigar pelo Emmy de melhor minissérie. A principal concorrência vem da Netflix, Treta e Dahmer: Um Canibal Americano; mas elas não são unânimes.
Baseada em best-seller homônimo, Daisy Jones & The Six tem uma produção impecável. Até pode não levar a cobiçada estatueta do Oscar da TV, mas sem dúvida é a melhor direção de arte entre as minisséries.
Roteiro e direção também estão coesos, entregando bem ao telespectador a proposta da trama, que é exibida como se fosse um documentário. A narrativa é sobre uma banda ficcional dos anos 1970 que alcançou o estrelato tão rápido quanto se desmanchou.
A série joia rara do ano é Gotas Divinas. Com pura classe, elegância e requinte, o drama foi muito feliz na adaptação do cultuado mangá The Drops of God, cuja história aborda tudo o que cerca o mundo do vinho, da produção à degustação.
Parceria Japão-França, Gotas Divinas é imperdível. Além de paisagens belas e apuro ao tratar da enologia, a série apresenta ótima trama sobre herança, família, busca de identidade e propósito de vida. No centro da narrativa está uma disputa totalmente inusitada por herança.
Tomar um vinhozinho faz bem à saúde e é hábito de muitos. Gotas Divinas vai além disso ao apresentar para o público as belezas e graça dos vinhos mais finos que existem na face da Terra. Sommeliers e consultores das mais diversas origens trabalharam na série com o intuito de fazê-la ser autêntica.
No meio de tantos lançamentos genéricos da Netflix neste ano, a série japonesa Makanai: Cozinhando para A Casa Maiko passou despercebida do grande público. É uma pena, pois a atração merece todo destaque. Trata-se de um tesouro perdido no catálogo da plataforma do tudum. O drama inocente, inspirado em mangá premiado e best-seller, é uma obra de arte para acalmar o espírito e alegrar o coração.
Makanai apresenta ao mundo a tradição das gueixas, tão mal relatadas na indústria do entretenimento, que geralmente apenas reforça estereótipos nocivos. A produção usa duas adolescentes para entrar nesse universo misterioso e fascinante, oferecendo um olhar mais próximo da realidade.
A ambientação da narrativa se passa no distrito de gueixas de Kyoto, no qual a protagonista Kiyo (Nana Mori) se torna uma makanai (cozinheira) de casa onde as maikos (aprendizes de gueixa) moram juntas. Ali é retratado o cotidiano de Kiyo e sua melhor amiga, Sumire (Natsuki Deguchi).
A nova sensação nacional do Globoplay pegou o público por questões que tocam o íntimo de cada um, além de dar novo significado ao famoso pensamento “o inferno são os outros”. Carregada por grande elenco, Os Outros traz na base algo comum: briga entre vizinhos. O diferencial é a proporção que o desentendimento toma, com surtos raivosos, perseguição, milícia, corrupção, armas, traições… e por aí vai.
Dos principais nomes do drama, três chamam a atenção: Adriana Esteves, na pele da dona de casa Cibele, mãe “helicóptero” que protege ao extremo, de forma quase doentia, o filho único adolescente; Milhem Cortaz como Wando, homem iracundo e ambíguo; e Eduardo Sterblitch, vivendo um ex-policial sinistro.
Com uma ambientação de época deslumbrante (Los Angeles dos anos 30), do figurino à cenografia, o drama jurídico acompanhou os passos de Perry Mason (Matthew Rhys), detetive particular na sarjeta, mas com instintos brilhantes, que vira advogado de defesa famoso. A segunda temporada terminou encerrando uma história satisfatoriamente, mas deixando a possibilidade de continuação.
Enquanto Perry Mason foi cancelada, The Idol foi aprovada…
Mais uma vez a HBO crava o melhor drama do Emmy com folga e antecedência. Pela última temporada triunfal, Succession vai levar a terceira estatueta da categoria mais cobiçada do Oscar da TV. E com todos os méritos possíveis. Em qualquer método de análise, a série se sobressai em relação à concorrência.
Roteiro, direção, elenco… Succession tem de tudo do bom e do melhor. A leva de desedida ganhou um toque diferente do que fora apresentado até então, copiando a fórmula de 24 Horas com cada capítulo da temporada se passando durante um dia na vida da família Roy e companhia. Com episódios arrebatadores um atrás do outro, é a série de 2023 (rótulo muito difícil de perder nos próximos seis meses).
Melhor série da história do Prime Video, The Marvelous Mrs. Maisel entregou uma temporada final espetacular, sendo um dos melhores finais de séries dos últimos tempos. Tudo encabeçado pela maravilhosa Rachel Brosnahan, na pele de uma comediante de stand-up procurando seu lugar ao sol em plena Nova York dos anos 1950.
A atração preenche todos os requisitos: charmosa e politizada; premiadíssima e aclamada; tem elenco de primeira linha e produção impecável. Sem esquecer, claro, o fato de ser essencialmente engraçada e divertida.
A minissérie brasileira Todo Dia a Mesma Noite, sobre a tragédia acerca do incêndio da boate Kiss ocorrido há dez anos, conquistou muitos espectadores pela emoção da história, que é dolorida de ponta a ponta, da calamidade naquele fatídico 27 de janeiro de 2013 até a impunidade dos responsáveis pelas mortes de 242 pessoas.
O fato de Todo Dia a Mesma Noite ser curta, com cinco episódios apenas, contribuiu para outra boa característica do roteiro: precisão. É tudo muito conciso, direto, simples, sem firula ou encheção de linguiça. Os diálogos são peças de um quebra-cabeça que vai ganhando forma com o desenrolar dos episódios, sem deixar nada em branco ou fora do lugar.
A terceira temporada de Atlanta entra como um bônus pelo fato de ter sido lançada em 2022, porém chegou no Brasil apenas um ano depois. Ela merece menção por ter sido absolutamente genial, se consolidando com uma das séries imperdíveis que todos têm de ver.
Atlanta atingiu sua melhor forma aqui, incomodando na dose certa ao tocar em assuntos delicados da vida em sociedade, entretanto sem deixar de lado a diversão. E artisticamente está impecável.
Especialmente nessa leva, Brian Tyree Henry excedeu em brilhantismo na pele de Al “Paper Boi”. Foi o trabalho que o consolidou em Hollywood, gerando oportunidades em outras séries e filmes em papéis bem diferentes, como viver um agente do FBI em Agentes do FBI (Star+).
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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