Série sem vergonha de ser novelesca, a comédia Jane The Virgin completa dez anos neste domingo (13). Apesar de a narrativa vir carregada de absurdos típicos do folhetim mais latino possível, houve espaço para abordar assuntos sérios e relevantes. A combinação disso resultou em uma sátira deliciosa, mas que neste instante não está disponível no mundo dos streamings, no Brasil (foi removida da Netflix em janeiro deste ano).
Com o carisma irresistível de Gina Rodriguez, Jane The Virgin durou cinco temporadas (cem episódios), de 2014 a 2019, acumulando elogios e prêmios. Gina, por exemplo, ganhou o Globo de Ouro de 2015 na categoria melhor atriz de comédia, pela primeira temporada.
A base da narrativa é a novela venezuelana Juana La Virgen, de 2002. No centro está Jane Gloriana Villanueva (Gina), católica devota que ficou grávida aos 23 anos, mesmo sendo virgem, tudo por causa de uma inseminação artificial acidental feita por sua ginecologista.
Logo ela que estava aguardando o casamento para ter a primeira vez… Ambientada em Miami, a série turbinou os exageros das histórias melodramáticas comumente vistas em novelas latinas, fazendo paródias de várias situações.
Gina, por exemplo, começou a trama não sabendo que é filha de um galã de novela. Logo no primeiro episódio, o narrador (ponto forte da série) não deixou dúvidas sobre a fonte de tantas reviravoltas mirabolantes, de gêmeas do bem e do mal a truque do “quem matou?”, passando claro por quentíssimos triângulos amorosos: “Se você acha que isso tudo foi extraído de uma novela, você está certo!”
Jane The Virgin usou cenas do passado para retratar a infância de Gina. A curiosidade desse recurso é que a protagonista criança, por volta dos dez anos, foi interpretada por Jenna Ortega, atualmente estrela mundial da TV devido ao sucesso estrondoso de Wandinha, série protagonizada por ela, a produção mais vista em toda a história da Netflix.
Uma mistura de romance, drama e comédia sustentou Jane The Virgin durante todo o seu período no ar (originalmente na rede americana CW). No lado mais denso, para não ser apenas mais uma atração superficial, a série tocou em assuntos importantes, como a imigração ilegal nos Estados Unidos, arco narrativo protagonizado por Alba Gloriana Villanueva (Ivonne Coll), avó de Jane. Sem documento válido, ela vivia com medo de ser deportada.
Durante uma era na qual o empoderamento feminino ditava as regras na TV, a comédia não ficou para trás, lotada de mulheres fortes em jornadas genuínas. No caso de Jane, ela entrou no caminho de ser tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Não largou o sonho de ser uma escritora, equilibrando a carreira com os desafios da maternidade.
Assim, Jane virou um símbolo da ambição e da independência, incentivando mulheres a buscarem suas paixões e a lutarem por suas realizações pessoais e profissionais.
Outros tópicos deram uma quebra no humor durante as cinco temporadas, como saúde mental e religiosidade.
Essencialmente divertida, Jane The Virgin fez grande sucesso no Brasil e cumpriu sua missão de entreter. O final veio nos próprios termos, encerrando a narrativa apropriadamente. Resta torcer para que uma plataforma, como Max ou Paramount+, resgate a série para que o público das antigas reveja os episódios, assim como oferecer uma chance para quem nunca viu um episódio sequer possa engatar uma maratona e virar fã. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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