Comédias tristes e dramas engraçados: nova era da TV é desafio para o Emmy

Responda: como você classifica The White Lotus, é drama ou comédia? E Barry? Com o fim do período de elegibilidade, no último dia 31, o Emmy de 2023 passa a lidar diretamente com o cenário cada vez mais nebuloso e de difícil definição da atual era da TV, encarando o desafio de enquadrar as grandes séries da temporada dentro dos requisitos pré-estabelecidos da premiação.

O dilema Orange Is The New Black (é drama ou comédia?) atinge proporções nunca antes vistas pela Academia de Televisão americana, a organizadora do Emmy. Antes, o enrosco era só com a série símbolo da Netflix, essencialmente. Agora, não faltam comédias dramáticas a serem analisadas antes de fechar a lista dos concorrentes às indicações (votação ocorre entre os dias 15 e 26 deste mês; a lista dos indicados sai em 12 de julho).

Um exemplo bem claro dessa problemática é Poker Face (inédita no Brasil). Vendida como drama antes de estrear, a série policial vai tentar concorrer ao Emmy entre as comédias. A Academia pode reverter a escolha da própria produção, caso entenda o contrário. 

Só pós-Orange que o Emmy passou a analisar esses pedidos especiais; a série sobre presidiárias já concorreu no Oscar da TV como drama E comédia. O sistema anterior era simples: se a atração tivesse episódios com 30 minutos ou menos de duração, era comédia; drama se passasse disso.

Pense em Barry, por um instante. A quarta e última temporada da série da HBO claramente foi um drama com piadas. Porém, deve concorrer entre as comédias, tal qual nas edições passadas. Pior, corre risco de arrebatar a estatueta de melhor comédia devido à má fase de Ted Lasso, atual bicampeã. Resultado que seria trágico para The Marvelous Mrs. Maisel e Abbott Elementary, verdadeiras comédias.

Treta, atração sensação na Netflix, também tem esse mix de dramas e comédias na narrativa. Ela, porém, escapou dessa classificação porque se inscreveu como minissérie. Foi a sorte que The White Lotus (HBO) teve no passado, vencendo dez estatuetas, o que não irá se repetir neste ano.

Como tem uma personagem da primeira temporada dando continuidade à história, a segunda leva tirou The White Lotus das minisséries. Embora seja carregada de situações cômicas, principalmente estreladas pela amada perua Tanya (Jennifer Coolidge), a produção da HBO foi classificada como drama; entretanto, caberia entre as comédias sem problema algum.

Outras tantas atrações estão no meio termo entre comédia e drama. Tulsa King (Paramount+), com Sylvester Stallone na pele de um mafioso afável, tem muitos momentos engraçados. Falando a Real (Apple TV+), com Jason Segel e Harrison Ford, não é uma comédia propriamente dita, por mais que seja tratada assim. 

Há quem dê boas risadas assistindo Succession (HBO), que pode ser rotulada como paródia de uma família podre de rica dona de um conglomerado de mídia. Mas aqui não tem discussão por parte da Academia: Succession chega para conquistar outra estatueta de melhor drama, a terceira em quatro disputas. 

Um simpósio vai precisar ser organizado se Barry ganhar como melhor comédia. Algo terá de ser feito para ajustar os critérios de classificação.

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João da Paz

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br