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Crítica: sintonia das gírias periféricas é ponto fraco de Da Ponte Pra Lá

Série nacional da Max peca na falta de autenticidade em um aspecto-chave da trama
REPRODUÇÃO/MAX
Gabz em cena de Da Ponte Pra Lá
Gabz em cena de Da Ponte Pra Lá

Em meio à bela fotografia da cidade de São Paulo e uma trama envolvente, a série nacional Da Ponte Pra Lá (Max) tem um ponto fraco gritante: o uso das gírias periféricas. A falta de autenticidade na aplicação dos termos tão populares nas quebradas paulistanas atinge o nível cringe. É um resultado a anos-luz de distância do que Sintonia, drama brasileiro da Netflix, conseguiu atingir.

Desde o primeiro episódio, Sintonia chamou a atenção pelo uso cirúrgico e fidedigno do dialeto corrente na periferia de SP. As especificidades desse jeito bem peculiar de se comunicar foram impressas de modo equilibrado e natural no linguajar de cada um dos três personagens líderes: Doni (Jottapê), Nando (Christian Malheiros) e Rita (Bruna Mascarenhas).

Já em Da Ponte Pra Lá, logo no início se percebe que tem-se ali quase o modelo Globo de se aproximar do povo periférico, forçando a barra. Quem sofre com isso é justamente a protagonista, Malu (Gabz). É como se ela tivesse de ser obrigada a falar todo tipo de gíria de favela só para mostrar que é da quebrada mesmo

A série da Max errou aí, pois não retrata veracidade, fazendo da personagem um estereótipo. Ninguém da quebrada fala daquele jeito, a todo instante.

Sintonia soube dosar as gírias dentro do seu plantel. Contar com mais personagens periféricos ajudou, pois cada um se comporta de um jeito único. Não à toa, o dialeto falado nas comunidades paulistanas afastadas do centro entrou na boca de todos e virou assunto em tudo que é lugar, da imprensa às redes sociais. O próprio marketing da Netflix surfou nessa onda.

Em muitos momentos de Da Ponte Pra Lá, a personagem Malu destoa ao falar gírias, ainda mais quando está interagindo com personagens do núcleo playboy/patricinha. Parece que a jovem precisa provar algo, que é da periferia de fato, nas conversas, seja pelas gírias, entonação de voz ou gestos.

Quando Malu entra em cena na escola da elite paulistana e “troca ideia” com os alunos de lá, todos aqueles playboys e patrícias entendem as gírias que ela fala como se fossem nativos da periferia ou tivessem contato frequente com quem mora lá; o que não condiz com a realidade. É esquisito ver que todos dali entendem um “tá tirando, mano?” de forma natural.

Faltou o roteiro do drama calibrar melhor isso. Malu seria muito mais genuína se Da Ponte Pra Lá não fizesse dela a representante de todas as gírias periféricas existentes.

A trama de Da Ponte Pra Lá

Usando Euphoria como referência, grande hit da HBO, Da Ponte Pra Lá é aposta do streaming da Warner para fisgar o público jovem adulto com uma narrativa que fala de amor, emoções e descobertas, tudo envelopado em uma trama policial com direito à investigação.

Como pano de fundo estão as diferenças sociais e culturais da juventude da periferia e do centro das grandes cidades. Entre esses dois mundos divididos há um grande mistério. Uma jovem periférica se infiltra na escola mais exclusiva da alta sociedade paulistana em busca de uma única resposta: quem matou seu melhor amigo?

Dois rios atravessam a cidade de São Paulo que, conectada por pontes, reflete duas realidades muito diferentes. De um lado, a décima cidade mais rica do mundo, que é também o principal polo financeiro da América Latina.

Na outra faceta, a redução de um terço na expectativa de vida e condições que equivalem a de muitos dos países listados entre os mais pobres. É o retrato desses extremos que dá vida à atmosfera da série, que reúne histórias urgentes e intensas de juventudes separadas por abismos sociais.

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