BOLA MURCHA

Crítica: Ted Lasso copia Law & Order, recicla notícias reais e perde a graça

Comédia vencedora de 11 Emmys dá espaço a dramas pesados e angustiantes
DIVULGAÇÃO/APPLE TV+
Juno Temple na 3ª temporada de Ted Lasso
Juno Temple na 3ª temporada de Ted Lasso

A rainha das séries quando o tema é adaptar notícias reais, dessas que vemos nos telejornais, é Law & Order (franquia); essa aí é toda a base da narrativa, inclusive. Parece que a comédia Ted Lasso que roubar tal posto do drama policial e jurídico. Na terceira temporada, a atração premiada do Apple TV+ exagera na reciclagem de fatos, aumenta a carga dramática e, consequentemente, deixa de ser engraçada.

Dois episódios específicos servem de exemplo da versão Law & Order de Ted Lasso. O mais recente, desta semana (o oitavo), colocou a empresária de relações públicas Keeley (Juno Temple) em uma situação lamentável. A chefe foi vítima de hackers que acabaram vazando um vídeo íntimo dela, de forte conteúdo sexual, o que a abalou profundamente.

Contudo, ela não foi a única mulher alvo da covardia. Todo tipo de celebridade famosa tiveram fotos e vídeos íntimos vazados online, acontecimento que tomou conta da imprensa e virou assunto número um na internet.

Essa foi uma adaptação do que ocorreu na vida real, em 2014. Uma coletânea imensa de fotos íntimas de várias artistas conhecidas do público, de Jennifer Lawrence a Selena Gomez, foram postadas em sites e blogs.

No episódio anterior (o sétimo), Ted Lasso apostou na dramaticidade na jornada do nigeriano Sam Obisanya (Toheeb Jimoh), jovem talento do AFC Richmond. Sempre muito engajado em questões sociais, principalmente em se tratando de imigração, ele se envolveu em uma rixa pública com uma política proeminente do Reino Unido.

Na narrativa de Ted Lasso, a ministra do Interior do Reino Unido, Brinda Barot (Lucy Bayler), virou manchete por tomar uma decisão radical. Ela disse que não iria permitir a entrada de refugiados no país. Abalado, Sam foi ao Twitter criticar a posição da ministra, que por sua vez rebateu, pedindo ao atleta “calar a boca e driblar” (“shut up and dribble”), para ele só jogar bola e não se meter em assuntos fora da alçada esportiva.

Brinda encarnou a posição de políticos reais do Reino Unido, como Priti Patel e Suella Braverman, que se posicionaram explicitamente contra imigrantes, incluindo o ato de criar de projetos de lei para dificultarem a entrada de estrangeiros na ilha britânica.

Já o “cala a boca e drible” (“shut up and dribble”) foi uma frase dita pela jornalista Laura Ingraham, âncora do canal de notícias Fox News, para o jogador de basquete LeBron James, em 2018. O atleta da NBA fez duros comentários sobre o clima tenso da política nos Estados Unidos, então governado por Donald Trump, e Laura foi para a TV dizer para ele não se meter em assuntos políticos.

Jason Sudeikis na 3ª temporada de Ted Lasso
Jason Sudeikis na 3ª temporada de Ted Lasso

Cadê o humor em Ted Lasso?

Ted Lasso nunca foi uma série 100% comédia, com piadinhas e situações cômicas por todos os lados. No começo, a série usava o humor para aliviar tensões, mas não eram eventos extremamente densos e depressivos como os vistos na terceira temporada.

A trama era símbolo de generosidade. Havia ali um refresco em tempos tão sombrios e de ódio. Agora, foi aberto um espaço na narrativa justamente para notícias desses tempos sombrios e de ódio, esquecendo-se do refresco.

O humor de Ted Lasso perdeu a força. Aquela doçura do personagem principal, que dá nome à série, enjoou. A positividade vê a negatividade ganhar tração. E o melodrama excessivo está vencendo. 

Como produção televisiva, Ted Lasso não diminuiu em qualidade, em parte por causa de um elenco afiado. Mas os episódios atuais estão bem distantes da melhor fase da série, alcançada pela agradável primeira temporada.


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