Não, Wandinha não vai sair da Netflix. Os primeiros dias de 2023 já causaram um rebuliço na mídia entretê brasileira, que cometeu grave erro de interpretação e distorceu os fatos sobre a situação da série Wandinha na Netflix. O marco zero dessa confusão foi uma reportagem vaga do site britânico The Independent, com o título: “Segunda temporada de Wandinha pode estar saindo da Netflix”. O destino seria o Prime Video. Por qual motivo?
O texto do The Independent é cheio de “pode”, “deve” e sinônimos que deixam tudo muito solto, sem firmeza. Contudo, muitos veículos que repercutiram a notícia no Brasil pularam essa dúvida e quase cravaram a troca. Não houve contextualização da situação nos bastidores nem aplicação do bom senso. Isso levou os fãs a acreditarem que Wandinha vai sair da Netflix.
Em dezembro, o Diário de Séries publicou uma análise apontando uma curiosidade sobre a renovação de Wandinha. A comédia sombria é produção da MGM Television, que agora pertence à Amazon, dona do Prime Video. Logo, quem se precipita diz que a Amazon iria dar um jeito de fazer com que a segunda temporada do hit da Netflix fosse parar no Prime Video.
Mas não é assim que as coisas funcionam, longe de ser tão simples. Como informou o site IndieWire, citando uma pessoa próxima do caso, o acordo entre Netflix e MGM sobre Wandinha foi firmado muito tempo atrás, antes da aquisição feita pela Amazon.
Outro fator importante é que a MGM terá autonomia mesmo sob o guarda-chuva da Amazon. Ou seja, segue tocando os negócios como se fosse um estúdio independente.
A Amazon precisa deixar a MGM Television independente neste sentido, de negociar séries com streamings rivais do Prime Video, porque são muitas atrações na mesma situação de Wandinha, como The Handmaid’s Tale (Paramount+), Fargo (Grupo Disney), Vikings: Valhalla (também da Netflix) e outras.
Vide o exemplo dos estúdios de televisão da Warner, parte do conglomerado Warner Bros. Discovery. O grupo de mídia recém-formado é dono do streaming HBO Max. Nem todas as séries produzidas pela Warner Television estão na plataforma. E muitas são hits na concorrência, como Ted Lasso (Apple TV+) e You (Netflix).
Tanto para a MGM quanto para a Warner, não faz sentido, comercialmente falando, ser totalitária e “tomar” as séries da concorrência que foram feitas em casa. Como David Zaslav falou, ele que é o CEO da nova Warner, é saudável que o estúdio de televisão tenha liberdade para interagir com qualquer plataforma de Hollywood. Saudável e rentável, registra-se.
Uma troca de Wandinha, saindo da Netflix e aterrissando no Prime Video, dentro dessas circunstâncias, é improvável e seria um mau exemplo de gestão, além de péssimo exemplo de política da boa-vizinhança.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br