ATORES VERSUS ESTÚDIOS

Novo contrato trabalhista em Hollywood gera um criticado ‘Bolsa Ator’; entenda

Rotulado como 'socialista', fundo promete distribuir renda entre filiados de sindicato
DIVULGAÇÃO
Fran Drescher, presidente do sindicato dos atores de Hollywood (SAG)
Fran Drescher, presidente do sindicato dos atores de Hollywood (SAG)

Firmado na semana passada, o novo contrato trabalhista entre os atores e estúdios de Hollywood, válido para os próximos três anos, começa aos poucos a ter seus detalhes revelados. Um aspecto-chave do contrato, tido como decisivo para o acerto final, foi a criação de um fundo administrado pelo sindicato da categoria, o SAG, que vai repassar aos filiados parte do dinheiro que grandes nomes do entretenimento geram ao estrelar produções populares dos streamings.

De acordo com fontes ouvidas pelo site The Hollywood Reporter, a presidente do SAG, Fran Drescher (ex-The Nanny) foi a principal defensora desse fundo, recurso sem precedente na história hollywoodiana. A ideia é distribuir renda entre os atores, mesmo aqueles que não participaram dos filmes ou séries que produziram tal renda.

O fundo vai funcionar assim. Séries de streamings que atraem a audiência de 20% dos seus respectivos assinantes, nos primeiros 90 dias de disponibilidade, vão gerar um dinheiro bônus para o sindicato; o SAG estipula algo em torno de US$ 120 milhões nos próximos três anos.

Desse montante, 75% vai para os atores que estão nessas séries hits. Os outros 25% vão ser redistribuídos entre os demais filiados do SAG. A entidade patronal que representa os nove maiores estúdios hollywoodianos, a AMPTP, aparece como controladora do uso desse fundo junto com o SAG.

Não vão ser todos os filiados do sindicato, cerca de 160 mil atores, que receberão o dinheiro desse fundo. “É destinado só para as pessoas que trabalham em séries/filmes no streaming, não serve para além disso”, afirmou Duncan Crabtree-Ireland, principal negociador do SAG nessas questões trabalhistas.

Fran Drescher crê que o tal fundo vai mitigar o impacto do streaming em Hollywood, auxiliando aqueles atores que não tiveram sucesso com suas séries nas mais diversas plataformas disponíveis no mercado. “Eles merecem ganhar mais dinheiro, sem dúvida”, disse a presidente do SAG.

A lógica defendida por Fran é válida. Tem série no streaming que não passa de duas, três temporadas. Após o cancelamento, uma atração tida como fracassada some, não entra no mercado de DVDs, não é distribuída internacionalmente, não é exibida em reprise na TV paga (mercado americano)… algumas são retiradas até da própria plataforma.

Os itens citados acima (DVDs, distribuição e reprise), lá no modelo pré-streaming, ajudava o ator de uma série dentro desse contexto a obter renda durante anos, colhendo frutos pelo famigerado residual.

Atualmente, atores de uma série de streaming cancelada embolsam mixaria. Durante a greve dupla, muitos artistas compartilharam quanto recebem de atrações até icônicas, nível de Orange Is the New Black (Netflix). Para alguns, o pagamento não passa de centavos de dólares. 

O contraponto disso é uma tática estilo Robin Hood de Fran, como apontam seus críticos. Qualquer discussão sobre distribuição de renda via fundo ou ajuda “de cima para baixo” é vista como algo “socialista” por muita gente que trabalha no mundo empresarial americano. 

Uma fonte ouvida pela The Hollywood Reporter, que trabalha em um grande estúdio, resumiu bem esse outro lado do debate: “Nós somos contra o socialismo. Por que pessoas vão ganhar bônus que é fruto de uma série em que ela não trabalhou?”.


Siga o Diário de Séries no WhatsApp

Acompanhe o Diário de Séries no Google Notícias

Siga nas redes

Fale conosco

Compartilhe sugestões de pauta, faça críticas e elogios, aponte erros… Enfim, sinta-se à vontade e fale diretamente com a redação do Diário de Séries. Mande um e-mail para:
contato@diariodeseries.com.br
magnifiercross