A atual era de séries prestigiadas e de alta qualidade explora a vida de bilionários como nunca, vide atrações do nível de Billions (disponível na Netflix), Succession (HBO) e Devils (atração do Universal TV). Tem quem goste de ver gente podre de rica se lascando, enquanto há pessoas que não curte assistir mimados chorando pela falta de morango no cereal. Industry, drama britânico da HBO, está aí para provar que a gente precisava sim de outra série fundamentada na podridão capitalista.
Com a segunda temporada encerrada nesta semana (ambas as levas estão disponíveis na HBO Max), Industry se consolidou como série essencial por apresentar um diferencial nesse mundo específico das narrativas sobre pessoas abastadas, aquelas com preocupações longe da realidade da maioria.
A narrativa tem o olhar de analistas financeiros de uma firma fictícia poderosíssima, chamada de Pierpoint & Co. A sede londrina desse banco de investimentos contrata jovens que em seis meses precisam provar que merecem trabalhar ali; metade da turma será dispensada após o teste. Vale tudo, absolutamente tudo, para provar o valor do trabalho, estratégia maquiavélica que se encaixa como uma luva na lógica capitalista.
O público é convidado para entrar no campo de jogo da Pierpoint, onde os analistas falam rápido coisas que a maioria do público não entende, jargões das finanças que mais parecem um idioma estranho. Percebe-se que há uma veracidade naquilo, observação bem precisa.
O capricho de Industry
Industry é criação da dupla Mickey Down e Konrad Kay, ex-banqueiros que eram especialistas em investimentos. Então, a expertise que obtiveram no front de batalha do mercado de ações está toda aplicada no drama.
É fácil superar essa complicação de entender totalmente os termos usados na série. É igual assistir Grey’s Anatomy: os personagens falam freneticamente o linguajar da medicina que não dá para assimilar metade do que é dito; mas o que está ao redor é compreensível.
Sexo entre colegas de trabalho? Fogo amigo e traição? Dramas familiares? Relação conturbada com a chefia? Intrigas entre colegas? Industry tem tudo isso e muito mais.
Superado os jargões do mercado financeiro, o telespectador absorve de Industry o bê-a-bá do capitalismo rude, atrás das cortinas, mas de um jeito que nem Billions nem Succession retratam. São as movimentações da engrenagem que fazem a máquina funcionar, com negociatas antiéticas, troca de informações privilegiadas, abuso de poder por causa da gorda conta bancária, o rico ficando mais rico… sabe, essas coisas “leves”.
O privilégio de poucos também está no centro da trama, mostrando como o fato de nascer em berço de ouro modifica o jeito de agir e tomar decisões em comparação com quem veio do nada e precisa provar a cada momento que merece o lugar no qual está.
Por ser feita por quem entende do assunto, Industry apresenta histórias convincentes e articuladas com perfeição. São os bastidores do mundo financeiro encenados quase como uma narrativa fantasiosa para o povão.
Lembrando que na vida real, as atitudes vistas na série afetam quem está na parte inferior da cadeia alimentar. Seja lá ou cá, o que importa é fazer dinheiro a qualquer custo.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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