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As dez melhores séries de 2024 (até agora)

Produções de ponta como Ripley, Xógum e Matéria Escura se destacaram
DIVULGAÇÃO/NETFLIX/FX
Dakota Fanning em Ripley (à esq.); Anna Sawai em Xógum
Dakota Fanning em Ripley (à esq.); Anna Sawai em Xógum

O mundo das séries teve um primeiro semestre de 2024 muito rico. Entre tantas atrações que se destacaram está Xógum, simplesmente a grande favorita para levar o Emmy de melhor drama, prêmio merecido pela produção épica e caprichada. Enquanto Young Sheldon mostrou como se encerra uma sitcom popular com chave de ouro, Ripley provou que as belas-artes sobrevivem em meio à pasteurização que predomina na TV (e isso logo na Netflix, o que só valoriza ainda mais o projeto ousado).

O Diário de Séries selecionou as dez melhores séries de 2024 (até agora). Foram consideradas apenas atrações exibidas em território brasileiro de 1º de janeiro até 27 de junho. Confira:

 

Kelvin Harrison Jr. (à esq.) e Aaron Pierre em pôster de Genius MLK/X
Kelvin Harrison Jr. (à esq.) e Aaron Pierre em pôster de Genius MLK/X

Genius: MLK/X
disponível no Disney+

O que falar mais sobre Martin Luther King Jr. e Malcolm X, dois símbolos da luta racial nos Estados Unidos? Pois a série Genius, em sua quarta temporada, encontrou uma ótima solução. Intitulada de Genius MLK/X, essa leva de episódios foi bastante feliz ao mergulhar na vida pessoal desses dois ícones do movimento preto que impactaram o mundo inteiro. O segredo está na inserção de suas respectivas mulheres na história.

Genius MLK/X precisou adotar essa rota mais intimista para se diferenciar de tantos filmes e documentários que existem por aí sobre ambos. As obras mais celebradas deles talvez sejam Malcolm X (filme de 1992 dirigido por Spike Lee e com Denzel Washington na pele do ativista) e Selma: Uma Luta pela Igualdade (filme de 2014 de Ava DuVernay com David Oyelowo encarnando Martin).

E deu muito certo. O drama original do Nat Geo investiga como Luther King Jr. (Kelvin Harrison Jr.) e Malcolm X (Aaron Pierre) eram dentro de casa, cada um em sua respectiva vida doméstica, equilibrando isso com o peso de serem representantes do movimento preto na luta por direitos civis e combatendo o racismo. Genius traz para o centro suas respectivas parceiras: Coretta Scott King (Weruche Opia), mulher de Luther King Jr., e Betty Shabazz (Jayme Lawson), mulher de Malcolm X.

 

Víctor Massán (à esq.) com Raúl Tejón em Machos Alfa 2
Víctor Massán (à esq.) com Raúl Tejón em Machos Alfa 2

Machos Alfa
disponível na Netflix

Sem medo de represálias por tocar em assuntos politicamente incorretos sobre a masculinidade, Machos Alfa subiu de nível na segunda temporada narrando, com raro humor ácido, como a fragilidade do homem moderno assombra a si próprio e todos ao redor, seja mulher, família, filha, colegas de trabalho, amigos gays…

Machos Alfa é um manifesto perfeito do mal-estar da masculinidade. A série espanhola vai além de refletir situações delicadas e embaraçosas do cotidiano vividas por homens ao redor do mundo, ela destaca que isso afeta quem está perto, sendo aí um problema de interesse geral.

 

Alice Braga na série Matéria Escura
Alice Braga na série Matéria Escura

Matéria Escura
disponível no Apple TV+

Existem realidades alternativas? Matéria Escura, baseada em livro homônimo de Blake Crouch, logo no começo introduz essa ideia, usando como exemplo o experimento Gato de Schrödinger: a ilustração paradoxal da teoria quântica sugere que pode haver, sim, duas probabilidades distintas e simultâneas.

O professor universitário Jason Dessen (Joel Edgerton) é quem embarca nessa jornada de vidas alternativas na trama de Matéria Escura. É uma visão mais real e humana do multiverso, termo que se tornou popular por causa da abundância recente de séries e filmes sobre super-heróis.

A minissérie, que é um hard sci-fi, explora temas como família, amizade e busca por uma suposta vida ideal. Acontece que, em muitos casos, é na imperfeição que está a magia do viver em harmonia, na plena paz de espírito.

 

Callum Turner em Mestres do Ar
Callum Turner em Mestres do Ar

Mestres do Ar
disponível no Apple TV+

A qualidade de Mestres do Ar é absurda. Tem-se ali uma produção de cinema na TV, isso em nove episódios. Tudo é digno de elogios, do elenco à direção de arte, passando pelas insanas batalhas áreas que ocorrem a todo instante, o que é bastante caro (e trabalhoso) de ser feito.

Mestres do Ar é a terceira parte da saga militar da dupla Tom Hanks e Steven Spielberg, formada por Irmãos de Guerra e O Pacífico. O pano de fundo é a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

Baseada no livro homônimo de Donald L. Miller e roteirizado por John Orloff, a narrativa acompanha os homens do 100º Grupo de Bombardeio (o Centésimo Sangrento) enquanto eles realizam perigosos bombardeios sobre a Alemanha nazista e enfrentam as condições hostis do frio, a falta de oxigênio e o puro terror do combate realizado a 7.500 metros de altitude.

 

Andrew Scott na minissérie Ripley
Andrew Scott na minissérie Ripley

Ripley
disponível na Netflix

O visual de Ripley chamou a atenção. E não só pela variação de cores binárias, indo do branco para o preto. Paira ali uma aura de belas-artes, pois percebe-se que é uma atração refinada, que preza por detalhes contemplativos. Nem parece um produto original da plataforma do tudum; e pior que não é mesmo, foi feita para ir ao ar no Showtime, que teve de vender o drama artístico porque o canal americano passou por uma mudança de estratégia.

Ripley é um sopro de ar fresco e serve de ótimo contraponto. É uma obra deliciosa e muito bem-vinda nessa era de abundância do mais do mesmo. Está na briga pelo Emmy de melhor minissérie, apesar de não ter caído nas graças do grande público. No Brasil, por exemplo, nunca apareceu no ranking top 10 de audiência, seja no levantamento diário ou semanal. 

 

Pôster da 2ª temporada de Tokyo Vice
Pôster da 2ª temporada de Tokyo Vice

Tokyo Vice
disponível na Max

O cancelamento mais injusto do primeiro semestre de 2024 foi o de Tokyo Vice. Afinal, o drama criminal e jornalístico é de ótimo nível e está cotado para ser indicado ao Emmy de melhor drama, por muito mérito. Mas o facão da Warner Bros. Discovery é implacável na contenção de gastos. E Tokyo Vice se tornou apenas mais uma vítima desse corte.

A série, que já vinha de uma boa primeira temporada, subiu de nível no segundo ano, expandindo a trama para além do protagonista, o jornalista americano Jake Adelstein, interpretado por Ansel Elgort (do filme A Culpa É das Estrelas). O detetive Hiroto Katagiri (Ken Watanabe) ganhou muito destaque, assim como os personagens que giram em torno de Jake.

Tokyo Vice tem de tudo, de traquinagens políticas a romances, passando por perrengues familiares. Isso envelopado por um Japão entrando no novo milênio (1999-2000), cenário muito bem explorado pela produção da série, seja em cenas à luz do dia ou noturnas. Indiscutivelmente, a fotografia é um dos pontos fortes da série.

 

Kali Reis (à esq.) com Jodie Foster em True Detective: Terra Noturna
Kali Reis (à esq.) com Jodie Foster em True Detective: Terra Noturna

True Detective: Terra Noturna
disponível na HBO/Max

Terra Noturna, título da quarta temporada de True Detective, conseguiu recuperar o prestígio da saga. Após duas levas vacilantes, o drama policial voltou ao topo com uma história muito bem desenvolvida, liderada pela ótima Jodie Foster. O público gostou: os números de audiência superaram a primeira temporada, lançada dez anos atrás e protagonizada por Matthew McConaughey e Woody Harrelson.

Com o Alasca de pano de fundo (cenas gravadas na Islândia sob -23 °C), Terra Noturna deu show nos aspectos técnicos, da direção à fotografia. O trabalho nessas áreas foi de primeira grandeza, fazendo ótimo uso do ambiente no qual a história se passa: um lugar gélido que enfrenta uma noite sem fim, dias e dias inteiros no puro escuro, sem os raios de sol atravessando o céu.

 

Ambika Mod com Leo Woodall em Um Dia
Ambika Mod com Leo Woodall em Um Dia

Um Dia
disponível na Netflix

Apresentada em formato bem diferente e atrativo, quase sendo uma vitrine de contos, a boa minissérie Um Dia chegou para dilacerar o coração de quem desfruta ou já desfrutou os (dis)sabores de um amor platônico. Essencialmente, a trama destrincha cada momento-chave de uma relação desse naipe, explorando as vidas dos jovens Emma Morley (Ambika Mod, de This is Going to Hurt) e Dexter Mayhew (Leo Woodall, o Jack de The White Lotus).

O que Emma e Dexter compartilham é a definição precisa do dicionário sobre o que é amor platônico: “ligação amorosa isenta de paixão carnal”. Um Dia é muito eficiente ao capturar todas as nuances de uma amizade que está nessa zona do “vai dar namoro ou não”, reativando na mente do público boas e más lembranças.

 

Hiroyuki Sanada em cena de Xógum
Hiroyuki Sanada em cena de Xógum

Xógum: A Gloriosa Saga do Japão
disponível no Disney+

A grandiosa série Xógum fez o bingo das maiores atrações televisivas de todos os tempos: grandes cenas de batalhas, lutas de tirar o fôlego, (2.300!) figurinos, cenários grandiosos, fotografia de cinema… É repetição da cartilha de Game of Thrones.

Não é à toa que Xógum é a favoritaça para levar o Emmy de melhor drama, sem concorrentes por perto. A narrativa primou pela excelência ao levar o público para o Japão feudal, no começo dos anos 1600, e mostrar o estopim de uma guerra civil que definiu um século.

Ganham destaque a polarização religiosa entre católicos e protestantes e a influência dos portugueses naquela época, a ponto de ter o idioma como predominante. Pena que a produção, visando o mercado internacional, substituiu a língua portuguesa pela inglesa nos diálogos originais, sendo esse o único ponto negativo do drama, prejudicando um pouquinho a autenticidade.

 

Iain Armitage em cena de Young Sheldon
Iain Armitage em cena de Young Sheldon

Young Sheldon
disponível na Max

A comédia Young Sheldon deu aula no quesito conclusão de uma história. Todo mundo já sabia onde ela iria terminar: bem onde The Big Bang Theory começou. A sitcom não só fez isso com muita felicidade, mas de tabela preparou o terreno para o seu próprio spin-off, focado no casal Georgie (Montana Jordan) e Mandy (Emily Osment). E ainda mostrou como estão Sheldon (Jim Parsons) e Amy (Mayim Bialik) no presente.

Young Sheldon teve sete temporadas sólidas, sendo uma das séries mais vistas da TV americana desde a estreia, em 2017. Até quem nunca foi fã de The Big Bang Theory curtiu sua série filhote ambientada nos anos 1990.

*

 

Betty Gilpin na minissérie Senhora Davis
Betty Gilpin na minissérie A Senhora Davis

Bônus 1: A Senhora Davis
disponível na Max

Lançada nos Estados Unidos em abril de 2023, A Senhora Davis (Mrs. Davis) só chegou ao Brasil em abril deste ano. O principal trunfo dessa ótima minissérie é tecer uma crítica perfeita e ácida sobre o impacto da inteligência artificial na sociedade, tema tão em voga.

Apostando no surrealismo, A Senhora Davis dá à inteligência artificial uma dualidade yin-yang: cada pessoa pode analisar a influência dos algoritmos como benéfica ou ruim. Para a personagem principal, a freira Simone, interpretada com maestria por Betty Gilpin (Glow), a tecnologia turbinada é péssima e merece ser destruída, embora muitos a adorem (no sentido de reverência).

Essa ficção científica merece atenção por ser uma produção original em sua essência, contando uma história refrescante, divertida, bem elaborada e fascinante. É um sopro de ar puro em meio a tantos lançamentos reciclados do cinema, adaptados de livros ou encenando histórias reais.

A criação é da dupla Tara Hernandez (The Big Bang Theory, Young Sheldon) e Damon Lindelof (Lost, The Leftovers). É até difícil estampar um único rótulo na minissérie, afinal tem características de drama, comédia, ficção científica, trama religiosa, aventura… Fato é que a mistura disso tudo resultou em uma ótima opção de entretenimento, melhor aproveitada por uma mente descompromissada e limpa.

 

Nathan Fielder com Emma Stone em The Curse
Nathan Fielder com Emma Stone em The Curse

Bônus 2: The Curse
disponível no Paramount+

The Curse é uma adição por ter sido exibida justamente na virada do ano: começou em 2023 e terminou em 2024. 

Como aponta o título da série, uma maldição (curse, em inglês) assombra Asher (Nathan Fielder), o que de tabela atinge sua mulher, Whitney (Emma Stone, em atuação brilhante). A possível zica não poderia ter chegado em um momento pior, pois o casal está 100% concentrado na gravação de um programa televisivo sobre construção e reforma de casas.

Após receber o feitiço jogado por uma menina, Asher desconfia que tudo o que dá errado em sua vida, ou da mulher, é resultado da praga. A narrativa trafega em uma gangorra mostrando que os infortúnios do protagonista pode ser, sim, resultado da maldição, ou nada se passa de coisas naturais da vida, consequências de suas atitudes vacilantes mesmo.

The Curse surfa no cringe, por isso foi corretamente rotulada como uma das séries mais desconfortantes dos últimos tempos. Quem adentra nessa bizarrice precisa entender isso e esquecer a lógica. Certeza que será uma experiência no mínimo interessante.

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