O mercado hollywoodiano de séries cada vez mais abraça um modelo de negócio que mina o talento criativo. Todo espectro da indústria do entretenimento americana, TV aberta, canais pagos e streaming, está sendo invadido por atrações que são filhotes de séries famosas ou tem como base alguma propriedade intelectual (IP) de terceiro, seja livro, filme, game… Sem contar as tramas inspiradas em histórias reais.
Assim, o espaço para histórias desenvolvidas exclusivamente para a TV torna-se escasso, com os criadores disputando poucas vagas de prestígio em vitrines que realmente importam.
O motivo principal dessa investida hollywoodiana intensa em franquias, adaptações e histórias reais é simples de entender: dinheiro. É muito arriscado fazer um investimento em uma série que surge do nada. Tem de se fazer muito marketing para mostrar que ela merece ser vista, que tem qualidade. Com uma adaptação, por exemplo, tudo isso é mais fácil e menos custoso, pois aquela IP já é conhecida.
Pega-se o caso de Daisy Jones & The Six, no Prime Video. A minissérie é adaptação do best-seller homônimo, que tem um contingente robusto de fãs. Eles por si só estão fazendo a produção bombar online a cada notícia, foto ou vídeo sobre a série divulgado pelo streaming da Amazon. Por parte da empresa, basta só um trabalho básico de publicidade que a outra parte, organicamente, está sendo feita. A estreia do drama será no próximo dia 3.
Elenco da série Daisy Jones & The Six
Apostar em spin-offs de séries famosas, além de pegar carona no sucesso da trama matriz, é estratégia de streamings para reter assinantes, foco número 1 de todas as plataformas do mercado neste instante. É por isso que dia sim e outro também brotam notícias de spin-offs de várias atrações.
E tem Billions, Dexter, The Witcher, A Lista Terminal, Pacificador, Outlander, The Good Doctor… Essas são apenas algumas séries que recentemente aumentaram a família com a aprovação de projetos derivados.
As redes de sinal aberto nos EUA, fonte de produções importadas para o mundo inteiro, é dominada por adaptações ou franquias. A CBS, líder de audiência, tem a noite de terça dedicada à franquia FBI (três séries: a original, Internacional e Os Mais Procurados). Ainda tem na grade duas NCIS, Young Sheldon (spin-off), Swat (remake) e CSI: Vegas.
A NBC, vice-líder no ibope, reserva dois dias só para franquias. Quarta vai ao ar o trio de Chicago (Med, Fire e P.D.); quinta é a vez de Law & Order (a original, SVU e Crime Organizado).
Quinta Brunson na 2ª temporada de Abbott Elementary
Criação só para a TV
Nesse contexto, é complicado uma série original como Abbott Elementary (ABC) ou La Brea (NBC) encontrar uma brecha na programação. É mais vantajoso manter uma atração já estabelecida no ar, mesmo capenga no ibope, do que investir em algo novo. Do contrário, tem de ser uma aposta muito certa, com quase uma garantia prévia de que vai vingar.
Mesmo no mundo dos streamings e canais pagos, onde em tese haveria mais abertura para séries criadas do zero, não é moleza receber uma aprovação. Porém, fazendo valer do mesmo pensamento usado na TV aberta, quando o caminho for esse, precisa ser certeiro.
São os casos de O Urso e Ruptura, duas séries que foram tratadas como as melhores de 2022, ambas produções originais feitas para a TV.
No Emmy do ano passado, dos oito indicados como melhor drama, só dois vieram de um IP (Better Call Saul, spin-off de Breaking Bad, e Euphoria, adaptação de série homônima israelense).
Entre as minisséries, The White Lotus (original) prevaleceu contra uma concorrência composta de quatro séries baseadas em histórias reais: The Dropout (caso Theranos-Elizabeth Holmes), Inventando Anna (golpista Anna Delvey), Dopesick (crise dos opioides nos EUA) e Pam & Tommy (sobre o relacionamento de Pamela Anderson e Tommy Lee).
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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