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Análise: Hollywood vive de reciclagem e está sem ideias? Não é verdade

Séries originais de alto nível dividem espaço com obras baseadas em alguma coisa
DIVULGAÇÃO/ABC/HULU
Cenas de Abbott Elementary, Only Murders in the Building e O Urso
Cenas de Abbott Elementary (à esq.), Only Murders in the Building e O Urso

O anúncio de uma série sobre os livros/filmes da Saga Crepúsculo, logo após a encomenda da adaptação televisiva de Harry Potter, somado a tantas atrações baseadas em pessoas e casos reais, lembrando dos spin-offs atrás de spin-offs, leva à seguinte conclusão (errada): Hollywood está sem criatividade. Esse é apenas um lado da moeda. É preciso entender a motivação por trás desses resgates e inspirações em histórias verídicas, além de ressaltar que há muita produção boa original disponível por aí.

Quem critica a suposta falta de criatividade em Hollywood tem de pensar na seguinte situação. Você é o executivo mandachuva de um grande estúdio que é dono de uma propriedade intelectual (IP) como Harry Potter. Seria imprudente e ruim para os negócios não explorar mais a história que, somente nos cinemas, gerou bilhões de dólares de bilheteria.

Morder só um pedacinho de tal fatia já alivia o balanço financeiro da empresa. Fora a questão do marketing em massa acerca da atração, igual se deu com Os Anéis de Poder no Prime Video, prelúdio da bem-sucedida e premiada franquia de filmes O Senhor dos Anéis.

As adaptações de filmes antigos seguem a mesma lógica. É aproveitar uma história e marca famosa, tipo Máquina Mortífera, e tentar fazer uma série que, por uns três anos, vai render algo de positivo. 

Os spin-offs atrás de spin-offs servem para manter o público fã de uma produção específica durante mais tempo em determinada plataforma. Por isso que brotaram um monte de filhotes de The Walking Dead, Billions, Game of Thrones, Yellowstone… É como se fosse um programa de fidelidade oferecido ao telespectador.

Cenas de Succession, The White Lotus e Ruptura
Cenas de Succession (à esq.), The White Lotus e Ruptura

Séries originais de qualidade

Hollywood, pelo outro lado da moeda, investe bastante em séries cujas premissas são originais, criadas especificamente para a TV. Se algumas flopam, o que faz parte do jogo, muitas atingem grande sucesso e disputam prêmios.

Não é tão difícil pinçar séries autorais excelentes. Pega-se um recorte das mais atuais, levando em conta aquelas mais destacadas, dignas de indicação ao Emmy. No território da comédia, temos Abbott Elementary, O Urso, Only Murders in the Building, Barry, The Marvelous Mrs. Maisel, Atlanta…

São histórias sobre a rotina de professores em escola pública, trabalho em uma cozinha de restaurante, vida de mulher comediante nos anos 1950 e 1960… Não faltam boas histórias.

Enquanto isso, entre os dramas, tem Succession, The White Lotus, Yellowjackets, Yellowstone, Ruptura, Treta, O Paciente, Enxame, Stranger Things…

O curioso é que a oferta de séries baseadas em histórias reais é tanta que mesmo narrativas originais, tipo Yellowjackets, atraem a curiosidade do público por pensar que ali está sendo retratada uma história baseada em fatos verídicos.

Em meio a overdose de séries, passando da casa das 500 por ano, vai ter de tudo, naturalmente. Hollywood é uma indústria, e tal qual vai pensar na melhor forma de ganhar dinheiro (incluindo explorar as IPs). Contudo, tem espaço para muito conteúdo bom original, que consegue emplacar a dobradinha sucesso de público-elogio da mídia, assim como as produções “não originais”.


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