ANÁLISE

The Walking Dead: trama passa do ponto, e Covid-19 atrapalha despedida épica

Chega ao fim a narrativa da série zumbi após 11 temporadas
DIVULGAÇÃO/AMC
Lauren Cohan na 11ª temporada de The Walking Dead
Lauren Cohan na 11ª temporada de The Walking Dead

A série The Walking Dead chega ao fim, neste domingo (20), lembrando o passado nada saudoso, quando a trama se arrastava em episódios ruins. Assim foi a estendida 11ª e última temporada, com exagerados oito capítulos a mais do que o habitual. Ficou nítido como a história foi esticada para preencher essa encomenda extra, descaracterizando o dinamismo marcante de temporadas recentes. Fora isso, restrições da Covid-19 atrapalharam a realização de uma despedida épica.

No quesito audiência e repercussão, The Walking Dead cruza a linha de chegada longe do auge, experimentado ali na meiuca da série. Em contrapartida, a trama em si deu uma revigorada sob o comando de Angela Kang, que assumiu o posto de showrunner na nona temporada e sustentou a atração zumbi, evitando o pior.

Entre os desafios que enfrentou estava o de apresentar a comunidade Commonwealth, tratada no universo de TWD como a maior que se tem notícia, habitada por 50 mil pessoas. Todas vivem em uma rotina parecida com a dos tempos pré-surto, trabalhando em empregos convencionais (padeiro, jardineiro, médico) e até desfrutando momentos de lazer, frequentando shows musicais e eventos esportivos.

Desde a nona temporada, tudo em The Walking Dead apontava para Commonwealth. Antes de cruzar os muros seguros do santuário, onde os zumbis não são ameaça, os heróis da trama tiveram de derrotar outro grupo vilanesco tirano, chamados de Ceifadores. Nesse aquecimento pré-Commonwealth, a série estava em bons lençóis.

Extracampo afetou desempenho de TWD

Com a entrada em Commonwealth, se esperava acontecimentos memoráveis. Um porque os heróis não teriam vida fácil lá dentro, pois bateriam de frente com o comando do lugar, repetindo a fórmula de videogame da trama, de sempre entrar em uma espécie de fase a ser ultrapassada e precisar vencer o mestre (vilão ou vilã). Segundo, havia a expectativa de ver a grandiosidade da comunidade.

Os sobreviventes correram riscos e encararam inúmeros desafios dentro do santuário, tendo do outro lado do ringue os inescrupulosos Lance (Josh Hamilton) e Pamela (Laila Robins). Quem estragou os duelos foi a própria AMC, anunciando fora de hora vários spin-offs da franquia zumbi antes de a série mãe terminar.

Josh Hamilton na pele do vilão Lance Hornsby em The Walking Dead
Josh Hamilton na pele do vilão Lance Hornsby em The Walking Dead

A bronca foi que atrações derivadas com Carol (Melissa McBride) e Daryl (Norman Reedus), mais a de Maggie (Lauren Cohna) e Negan (Jeffrey Dean Morgan), vão se passar no futuro. Ou seja, nenhum desses quatro personagens, fundamentais para a narrativa, iriam morrer em The Walking Dead.

Então, o anticlímax reinou. O telespectador sabia que não adiantava o grau de perigo vivido por esses personagens. No final das contas, iriam sobreviver, estragando assim o elemento da surpresa.

Outra situação sem graça da reta final de The Walking Dead, mas isso culpa de fatores longe da alçada, foi lidar com os efeitos da pandemia de Covid-19. O que pesou para a série foi o fato de ter de obedecer, pelo bem maior, práticas de restrição de pessoal no set. Ou seja, o mínimo de pessoas possíveis na frente das câmeras.

Isso até afetou as gravações de hordas de zumbis. Mas o impacto maior foi na exposição de Commonwealth para o telespectador. Se não fossem as referências externas ou diálogos de personagens falando que o lugar era grande mesmo, o público não teria essa noção. No vídeo, pareceu que Commonwealth era pequena, com centenas de pessoas apenas morando por lá.

Protestos nas ruas da comunidade contra o governo tinham um punhado de gente, só. Nada de shows musicais lotados. Um exemplo simples exemplifica a consequência de obedecer o protocolo sanitário.

No 18º episódio da 11ª temporada, a comunidade celebrou um feriado importante. Na comemoração, um evento de luta-livre foi organizado. Na HQ homônima em que a série se baseia, o evento esportivo em questão foi um jogo de futebol americano, realizado em um estádio cheio e tudo mais. No plano original, a trama da TV iria replicar isso. A Covid-19 acabou com a ideia. A solução foi um esporte com menos pessoas envolvidas, sem aglomeração.

Esses escorregões, de causa própria ou não, apagaram um pouco o brilho de The Walking Dead justamente na situação em que deveria brilhar mais, na temporada de despedida. Deu para o gasto, no final das contas. Poderia ser um acontecimento épico; não foi.

Siga nas redes

Fale conosco

Compartilhe sugestões de pauta, faça críticas e elogios, aponte erros… Enfim, sinta-se à vontade e fale diretamente com a redação do Diário de Séries. Mande um e-mail para:
contato@diariodeseries.com.br
magnifiercross