A Netflix entregou mais uma produção de baixa qualidade. Pelo lado artístico, Dahmer: Um Canibal Americano só tem um ponto positivo: a atuação de Evan Peters, digna de Emmy. Porém, a minissérie provou ser um hit, alcançando audiência espetacular nos primeiros cinco dias de disponibilidade. E essa é a pior notícia possível para o assinante da plataforma.
O que os executivos da Netflix entendem é: não tem problema algum aprovar projetos abaixo da crítica, pois o público vai assistir. Logo, o caminho natural das coisas é repetir o processo, só fortalecendo a ideia de que a empresa do tudum prioriza a quantidade ao invés da qualidade.
Dahmer vem na esteira de Echoes, outra minissérie sofrível que alcançou o topo do ranking de audiência na Netflix. Só pegando esse dois exemplos recentes, a Netflix tem uma boa amostra do que o público em todo o mundo está gostando. Resta apertar os cintos e se preparar para mais bombas por aí.
Mesmo assim, rumo ao Emmy
Com uma história mal contada, escolhas ruins de fotografia (excesso de filtro amarelo), repetitiva e sensacionalista, Dahmer preenche os requisitos de uma atração a ser evitada quando a escolha é aproveitar uma hora livre do dia para o entretenimento. Só Evan Peters, o protagonista na pele do serial killer Jeffrey Dahmer, escapa.
Ele, realmente, hipnotiza. Eis um fato que pode justificar a maratona. Acompanhar o ator totalmente compenetrado no corpo de um homem doentio, que além de ser assassino praticava canibalismo e necrofilia, é motivador. Tudo para ver qual a próxima coisa horrenda que o personagem é capaz de fazer na cruzada sanguinária; no final das contas, ele matou 17 pessoas, a maioria jovens pretos.
Na corrida ao Emmy de 2023, na categoria ator de minissérie, Evan Peters está bem colocado para, daqui a um ano, estar entre os indicados. Dahmer é um trabalho bom para o ator, na sequência de Mare of Easttown, produção da HBO pela qual ganhou a estatueta de melhor ator coadjuvante de minissérie, há dois anos.
Feito esse registro merecedor, Dahmer tem pouco vigor. Inevitavelmente, por causa da história arrastada, chega-se à conclusão que a minissérie poderia ser bem mais curta, talvez em seis episódios resolveria (ao invés dos dez). Deixaria a série “menos ruim”.
Chamou a atenção como a Netflix soltou Dahmer de supetão. O trailer oficial saiu menos de uma semana antes da estreia. Não teve episódios oferecidos à imprensa com antecedência, nem eventos première nem entrevistas com o elenco (práticas corriqueiras com atrações da própria Netflix).
Passados os primeiros dias após o lançamento, nota-se que a atração conquistou o público, corroborando a máxima de que existe série ruim boa de ibope (e vice-versa).
Pelos resultados recentes no ranking top 10 da plataforma, a Netflix pode entrar com mais afinco no perigoso caminho do barato e ruim, fazer qualquer tipo de atração sabendo que tem potencial de agradar boa parte dos assinantes. A empresa possui números para justificar esse modelo.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br