A minissérie A Vida Mentirosa dos Adultos, da Netflix, abriu espaço para celebrar o comunismo italiano e cantar hino contra fascistas em um festival do partido local revivendo o clima político no país europeu durante a década de 1990. A festa vermelha é uma adição da produção televisiva ao livro homônimo, escrito por Elena Ferrante, usado como base. Essa inserção condiz com toda a obra da autora, que sempre escreve personagens com visões críticas sobre a sociedade e sistemas políticos.
No quinto e penúltimo episódio, a trama coloca todos os principais personagens em uma grande festa do partido comunista italiano, com direito a parque de diversões, banquete, música, debate, poesia e cinema. A minissérie junta vários acontecimentos dispersos nas páginas do livro nesse único evento, dando uma boa dinâmica para o andamento da história.
Questões políticas, sociais e até mesmo religiosas chegam no ápice durante o encontro, com diversas discussões travadas sobre ateísmo, possível ação de Deus na história humana, convívio entre pobres ricos, oposição da classe trabalhadora contra os mais ricos…
O clímax se deu durante a execução completa da música Fischia il Vento (pela banda E’Zezi & Raiz). Essa canção, criada em 1943, é considerada o hino da resistência italiana contra o fascismo, lema do movimento La Resistenza, que combateu a invasão da Alemanha nazista no país durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Uma curiosidade que tem a ver com o mundo das séries. Fischia il Vento tem uma música “irmã”, podemos assim dizer, também bastante cantada pelos comunistas naquele período e que não se perdeu com o passar do tempo. É a canção Bella Ciao, sobre liberdade e resistência, que ganhou força mundial por causa da série espanhola La Casa de Papel (Netflix).
A questão do tema comunismo e socialismo em A Vida Mentirosa dos Adultos está permeada na vida dos personagens, sem necessariamente citar os movimentos pelo nome a todo. É algo diferente do visto em My Brilliant Friend (Amiga Genial), da HBO, outro drama baseado em obra de Elena Ferrante.
Em My Brilliant Friend, várias fases políticas e sociais da Itália são abordadas pelo fato de a narrativa se passar durante várias décadas. Na temporada mais recente, a terceira, ambientada nos anos 1970, a trama entra fundo no confronto comunismo versus fascismo, explorando debates acadêmicos sobre o assunto, mostrando grupos de resistência e até mesmo embates físicos, brigas mesmo entre opositores. Se discute, com precisão, o que é a visão idealista (elitista) de um movimento social em contraste com quem experimenta na pele o trabalho braçal.
Fischia il Vento tem várias versões. A Vida Mentirosa dos Adultos escolheu a mais agitada, ritmo que dá mais eco aos versos ferozes, como “Se encontramos uma morte cruel / O partidário vai decretar uma vingança severa / Um destino cruel está selado / Para o fascista vil e traiçoeiro”.
Ouça uma versão bem similar de Fischia il Vento, em comparação a que foi cantada na minissérie (veja abaixo a letra, segundo tradução da Netflix):
Fischia il Vento
O vento está soprando e a tempestade está forte Nossos sapatos estão estragados, mas temos que ir Conquistar a primavera vermelha Onde o sol do futuro nascerá Conquistar a primavera vermelha Onde o sol do futuro nascerá
Cada distrito é a pátria do rebelde Todas as mulheres suspiram por ele As estrelas o guiam pela noite Fortes são seu coração e seu braço quando atacam As estrelas o guiam pela noite Fortes são seu coração e seu braço quando atacam
Se encontrarmos uma morte cruel O partidário vai decretar uma vingança severa Um destino cruel está selado Para o fascista vil e traiçoeiro Um destino cruel está selado Para o fascista vil e traiçoeiro
O vento para e a tempestade se acalma O orgulhos partidário voltam para casa Sua bandeira vermelha balançando ao vento Finalmente somos vitoriosos e livres Sua bandeira vermelha balançando ao vento Finalmente somos vitoriosos e livres
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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