MEMÓRIA

O dia em que a HBO rejeitou Breaking Bad: desinteresse total

Antes de estrear há 15 anos no canal AMC, o drama acumulou negativas em Hollywood
IMAGENS: DIVULGAÇÃO/AMC
Bryan Cranston em cena de Breaking Bad
Bryan Cranston em cena de Breaking Bad

Hoje, Breaking Bad é considerada por muitos uma das melhores séries de todos os tempos, lado a lado com The Sopranos. Mas antes de entrar no ar, a história era outra. A atração sequer conseguia chamar a atenção de um canal para exibi-la. Vince Gilligan, o criador da trama ousada, acumulou rejeições nas ruas de Hollywood. A mais dolorida de todas foi a negativa da HBO, com uma executiva demonstrando explicitamente zero interesse na série criminal, que completa quinze anos nesta sexta-feira (20).

Então um roteirista e produtor conceituado por causa de Arquivo X, Vince Gilligan sabia que tinha em mãos uma série muito no limite da censura e do politicamente correto. Afinal, a história apresentava como protagonista um professor de química do ensino médio que, ao descobrir um câncer no pulmão inoperável, decide virar traficante de metanfetamina para juntar dinheiro e dar um futuro financeiro seguro à família.

Pense que você é um executivo de um canal de TV e alguém vem com essa premissa… Você compraria a série ou não? É interessante ter isso em mente ao acompanhar a saga de Gilligan até achar um lar no canal AMC.

Vince Gilligan (à esq.) com Bryan Cranston nos bastidores de Breaking Bad
Vince Gilligan (à esq.) com Bryan Cranston nos bastidores de Breaking Bad

O não que ninguém quer ouvir

Antes de tudo, o showrunner precisava ter o sinal verde de uma produtora para gravar e bancar a série propriamente dita. Ele desfrutava de uma boa relação com os executivos dos estúdios da Sony. Apesar de deixar claro que estavam receosos, com um pé atrás, eles toparam fazer Breaking Bad. A missão a seguir seria achar um canal para colocar o drama no ar.

Entra em cena o pitching, nome usado até no mercado televisivo brasileiro que batiza a apresentação que um criador de conteúdo faz para executivos de uma emissora, canal ou streaming. É como se fosse uma apresentação de um projeto qualquer em uma empresa. 

No caso, quem está fazendo a defesa da série precisa convencer, em poucas palavras, os executivos que estão sentados na mesa ouvindo a proposta. Eles precisam saber o tema central da atração, as motivações dos personagens e, em algumas vezes, o final da história. Não são passadas muitas informações, porém o suficiente para aprovar ou reprovar o projeto.

Em entrevista à Academia de Televisão, organizadora do Emmy, Gilligan dissecou todo esse processo. No papo, parte de uma iniciativa homenageando os grandes produtores e artistas da TV, ele comentou que o primeiro pitching foi na TNT, no final da década de 2000. “A melhor apresentação da minha vida”, falou.

Os executivos ficaram empolgadíssimos com a trama de Breaking Bad. A todo instante, eles perguntavam coisas sobre a história, mostrando um interesse real. Contudo, no final os engravatados tiveram de ser francos. Disseram que não poderiam comprar o drama, pois seriam demitidos imediatamente. 

Um canal básico da TV paga jamais poderia mostrar um professor traficante de metanfetamina. Eles até queriam mudar Walter White, personagem de Bryan Cranston, fazer dele um mero contraventor. Gilligan negou a alteração.

No dia seguinte, foi a vez de visitar a HBO. “O pior pitching da minha vida”, contou Gilligan. Segundo ele, a executiva e os subordinados dela presentes na reunião foram rudes e não prestaram atenção na apresentação. “A executiva que me atendeu não poderia ter mostrado menos interesse. Era palpável sentir o quanto estavam desinteressados”.

Aquilo magoou Gilligan. “Ela disse [no final]: ‘muito obrigado por ter vindo’. E tchau, só”, relembrou. O showrunner deixou claro que sabe que rejeições fazem parte da profissão, “é como um jogador de beisebol, que erra a bola várias vezes até acertar uma rebatida”, comparou. O que lhe pegou não foi o “não” em si, mas como ele foi dado.

Bryan Cranston (à esq.) com Aaron Paul em Breaking Bad
Bryan Cranston (à esq.) com Aaron Paul em Breaking Bad

A jornada em busca do sim

A fila andou. A saga atrás de uma vitrine continuou, e Gilligan bateu na porta do Showtime, que pulou fora por ter no ar uma atração parecida (Weeds). Quando chegou no FX, o canal se interessou e comprou Breaking Bad, aprovando o roteiro do primeiro episódio e tudo mais. 

Dias depois, mudaram de ideia, porque na programação havia três produções com anti-heróis. Mais uma, na visão da diretoria, seria um excesso (optaram por Dirt, drama protagonizado por Courteney Cox, a Monica de Friends).

Então surgiu o canal AMC no resgate. Se seguisse a cartilha de Hollywood, o FX manteria o roteiro de Breaking Bad na gaveta e jamais iria cedê-lo a outro canal (vai que a série vire um hit, não é?). Por isso, Gilligan é grato à John Landgraf, principal executivo do FX, que facilitou a negociação.

Foi assim que Breaking Bad achou um lar no AMC, estreando em 20 de janeiro de 2008. Ficou com a Sony a responsa de distribuir a série pelo mundo. O drama começou a bombar na TV paga, ganhou força no comércio (compra, aluguel e empréstimo) de DVDs e explodiu no streaming.

No Brasil, Breaking Bad está disponível na Netflix.


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