ZONA DA AMIZADE

Crítica: Um Dia maltrata coração de quem vive um amor platônico

Minissérie da Netflix é perfeita na captura das nuances desse tipo de relação
DIVULGAÇÃO/NETFLIX
Ambika Mod com Leo Woodall em Um Dia
Ambika Mod com Leo Woodall em Um Dia

Apresentada em formato bem diferente e atrativo, quase sendo uma vitrine de contos, a boa minissérie Um Dia (Netflix) chegou para dilacerar o coração de quem desfruta ou já desfrutou os (dis)sabores de um amor platônico. Essencialmente, a trama destrincha cada momento-chave de uma relação desse naipe explorando as vidas dos jovens Emma Morley (Ambika Mod, de This is Going to Hurt) e Dexter Mayhew (Leo Woodall, o Jack de The White Lotus).

O que Emma e Dexter compartilham é a definição perfeita do dicionário sobre o que é amor platônico: “ligação amorosa isenta de paixão carnal”. Um Dia é muito eficiente ao capturar todas as nuances de uma amizade que está nessa zona do “vai dar namoro ou não”, reativando na mente do público boas e más lembranças.

O alicerce do amor platônico entre os protagonistas se dá logo na primeira interação entre eles, então universitários em plena noite de formatura. Os dois terminam o encontro inesperado na cama, mas sem se entregar às tentações de Eros. Nada rola além de conversas.

Tal encontro aconteceu em 15 de julho de 1988. A narrativa de Um Dia tem seu diferencial a partir desse ponto. Com episódios bem curtos, deliciosos e leves, com cerca de 30 minutos de duração, a narrativa mostra como Emma e Dexter estão em cada ano seguinte, sempre por volta da mesma data. É o retrato claro da evolução de dois jovens que firmam uma amizade pavimentada na confidência pura e simples.

Naturalmente, as jornadas de ambos seguem altos e baixos, ciclo após ciclo. Quem nutre por alguém um amor platônico se identifica facilmente com as situações em que ambos vivem, muitas vezes largando compromissos importantes marcados anteriormente para não faltar a encontros, por exemplo. Tudo na base da cumplicidade e para não perder a oportunidade de saber como o outro está.

Um Dia não foge das turbulências platônicas. Por N fatores, de desânimo com a própria vida a representatividade na pirâmide social, Emma e Dexter trocam farpas e discutem. Às vezes se entendem, voltando rapidamente aos trilhos. Mas, como se dá na vida real, aquela amizade que parecia firme na rocha vacila, tomba e provoca estragos. Duas pessoas que pareciam se amar passam a trocar ofensas baixas e provocam mágoa. Justamente por se conhecerem, trazem à tona o ponto mais fraco do outro na hora do bate-boca.

A força desse amor supera o rancor. A distância e o silêncio entre ambos não dura tanto assim. No episódio dez, ocorre um momento emblemático clássico do amor platônico. Quem sabe, sabe. É impossível odiar por tanto tempo alguém que você tem um carinho grande. E Emma confessa isso para Dexter; foi ele quem a magoou profundamente em encontro prévio.

“Vou ser sincera”, disse para o amigo, após uma conversa que reatou a amizade. “Eu, todo dia longe, pensava em você. De um jeito ou de outro”. Dexter devolveu dizendo que sentiu o mesmo. “Tipo: ‘Queria que o Dex visse isso’”, ela continuou. “Ou: “O Dex ia achar isso engraçado’.” 

A pessoa que sente algo assim, igual ao que Emma confessou, está em uma verdadeira paixão platônica. Nisso, Um Dia acertou em cheio. A trama entra em um rol das séries que desenvolvem com perfeição a relação entre duas pessoas bastante próximas, sem apelar para a vulgaridade e nem fazendo uso do melodrama barato e enjoativo. Foi um tiro no alvo perfeito no que ela se propôs a narrar.


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