Após atuação cirúrgica em A Queda da Casa de Usher (2023, Netflix), sem ganhar o devido reconhecimento que merecia no circuito de premiações, Carla Gugino mais uma vez brilha fora do radar. A atriz veterana rouba a cena em As Garotas do Ônibus, série disponível na Max, interpretando uma jornalista experiente que está por dentro de todos os acontecimentos da política americana.
Carla encarnou com precisão a personagem Grace Gordon Greene. O drama segue jornalistas que acompanham candidatos à Presidência dos Estados Unidos ao redor do país. Nesse circo, Grace é uma das mais respeitadas por ter um longo histórico de notícias bombásticas que revelou em primeira mão ao longo de décadas.
Ela consegue acesso onde outras concorrentes apenas sonham entrar. Sua credibilidade é tamanha que pessoas a procuram para compartilhar coisas que ninguém da imprensa sabe. Todo esse respeito tem um preço: a família fica em segundo plano.
Um tema recorrente em As Garotas do Ônibus é algo visto em outras atrações com personagens femininas em destaque: a mulher pode tudo? No caso de Grace, construir uma carreira sólida e admirável no jornalismo significou perder a família, nutrindo relações frágeis com o marido e a filha única, Annie (Rose Jackson Smith), uma jovem universitária.
Carla Gugino dá aula nessa performance, transitando muito bem entre a jornalista intrépida, responsável por dar notícias que mudam o rumo da política americana, e a mãe um tanto quanto perdida, sem saber o que fazer com a filha rebelde. Grace usa a fortuna que ganhou com o trabalho para tentar tapar o buraco da ausência maternal. Mas Annie, na verdade, só quer ter a mãe mais tempo por perto.
Grace é uma personagem de várias camadas, dando bastante terreno para Carla gastar seu talento. Na estrada, ela precisa se adaptar aos novos tempos da mídia e conviver com colegas bem mais novas do que ela. A veia maternal de Grace, longe de Annie, é vista nas interações que tem com Sadie McCarthy (Melissa Benoist), mesmo as duas sendo essencialmente concorrentes.
Se na Netflix, dando show na pele de várias personagens em A Queda da Casa de Usher, Carla Gugino não foi reconhecida, imagina na Max? A atuação dela é digna, sim, de indicações nos principais prêmios hollywoodianos. A esperança é que os votantes do Emmy, Globo de Ouro e afins prestem atenção em As Garotas do Ônibus em meio à overdose de séries que estão por aí.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
