INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

[Alerta] Episódio de Black Mirror, Joan É Péssima está próximo da realidade

Computação gráfica que reproduz imagens de atores não é (só) história de ficção
REPRODUÇÃO/NETFLIX
Annie Murphy (à esq.) com Salma Hayek Pinault em Black Mirror
Annie Murphy (à esq.) com Salma Hayek Pinault em Black Mirror

O alerta pode ter tons dramáticos e apocalípticos, mas é real. Diretor do sindicato dos atores de Hollywood (SAG), Duncan Crabtree-Ireland disse que a narrativa ficcional do (elogiado) episódio A Joan É Péssima, da sexta temporada de Black Mirror, está bem próxima da realidade. Nele, a plataforma Streamberry, paródia da Netflix, usa a inteligência artificial e computação gráfica para fazer série escatológica reproduzindo a imagem de uma atriz. E com o consentimento dela, mesmo sem ter pleno conhecimento disso.

Duncan Crabtree-Ireland é peça-chave no movimento grevista dos atores que, junto com os roteiristas, paralisa a indústria de entretenimento americana. Ele é o negociador chefe do SAG nas conversas com a entidade patronal AMPTP, representante dos nove maiores estúdios hollywoodianos, em busca de novo acordo trabalhista. A questão da inteligência artificial é central nesse embate.

Durante painel sobre o tema na Comic Con de San Diego, na última sexta-feira (21), Crabtree-Ireland usou o episódio de Black Mirror como exemplo do que pode acontecer em um futuro breve: “Pegue o episódio Joan É Péssima, de Black Mirror. Imagine um mundo não tão distante de hoje onde ocorrerá aquele tipo de abuso.”

Nesse episódio, a vida da executiva Joan Tait (Annie Murphy) é encenada passo a passo em atração da plataforma Streamberry. O drama intitulado de A Joan É Péssima tem como protagonista Salma Hayek Pinault, na pele de Joan. A atriz não tem controle sobre a produção porque ela assinou um contrato autorizando o tal streaming a reproduzir sua imagem digitalizada.

Esse é um ponto de divisão, na vida real, entre o SAG e a AMPTP. O entrave é o “consentimento prévio” no uso da inteligência artificial de um ator. O sindicato alega que a entidade patronal oferece uma proposta nociva aos atores. Já a AMPTP diz que além de oferecer o “consentimento prévio”, vai compensar os atores a cada produção com suas respectivas imagens reproduzidas digitalmente.

Crabtree-Ireland falou que a proposta da AMPTP é escanear atores, principalmente figurantes, e usar suas imagens “para toda a eternidade”, sem consentimento. Isso seria muito benéfico aos estúdios, pois economizariam muito dinheiro na produção de séries e filmes.

O SAG, afirmou Crabtree-Ireland, não é contra o uso da inteligência artificial visando este fim, deixando claro que cada ator deve ter a oportunidade de decidir se quer ter sua imagem digitalizada ou não. 

A demanda é assegurar que esses atores recebam um bom dinheiro ao ter suas imagens copiadas e que, a cada uso em série ou filme, eles sejam consultados e recompensados sobre a “atuação” de sua réplica, não dando aos estúdios a prerrogativa de usar a determinada imagem como bem entender (vide A Joan É Péssima) e sem pagar por isso.

Desde o decreto de greve, no último dia 13, ambas as partes da negociação não se encontraram para conversar, sobre esse e outros assuntos, dentro de quatro paredes.


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