BELAS-ARTES

A artística Ripley nem parece uma série Netflix (pior que não é mesmo)

Produção refinada destoa da pasteurização que prevalece na plataforma do tudum
DIVULGAÇÃO/NETFLIX
Andrew Scott na minissérie Ripley
Andrew Scott na minissérie Ripley

O visual de Ripley, lançamento recente da Netflix, chama a atenção. E não só pela variação de cores binárias, indo do branco para o preto. Paira ali uma aura de belas-artes, pois percebe-se que é uma atração refinada, que preza por detalhes contemplativos. Nem parece um produto original da plataforma do tudum; e pior que não é mesmo.

Ripley tem o selo de produção original da Netflix porque a empresa comprou a minissérie. Ela não foi idealizada nem produzida pela gigante do streaming: foi adquirida junto ao canal americano Showtime, que teve de vender o drama artístico porque passou por uma mudança de estratégia.

Em fevereiro de 2023, o Showtime foi alvo de uma operação interna do conglomerado de mídia Paramount Global. O canal virou um puxadinho do streaming Paramount+ e até mudou de nome na TV paga americana, passando a ser chamado Paramount+ with Showtime. Isso resultou em uma nova linha editorial, apostando dali em diante na realização de séries oriundas de grandes sucessos da marca, como Billions e Dexter.

Assim, Ripley, que estava sendo desenvolvida desde 2019, ficou fora dos planos. A Netflix rapidamente se antecipou às rivais e comprou a minissérie sem nem mesmo ver o produto acabado. Há um ano, só existiam algumas cenas finalizadas, aquelas no ponto de irem ao ar. Mesmo assim, os executivos da plataforma abriram o cofre para impedir que o Showtime apresentasse Ripley para a concorrência.

Em 2019, o criador Steven Zaillian bateu na porta do Showtime oferecendo o projeto. Vencedor do Oscar e roteirista de grandes filmes tipo A Lista de Schindler (1993), Hannibal (2001) e American Gangster (2007), Zaillian imaginou o livro O Talentoso Ripley (1955), de Patricia Highsmith, como uma minissérie, para ter mais tempo de explorar as nuances da história.

A obra serviu de base para várias adaptações live-action. As mais famosas são os filmes O Sol por Testemunha (1960, com Alain Delon) e O Talentoso Sr. Ripley (1999, com Matt Damon).

Dakota Fanning e Johnny Flynn em Ripley
Dakota Fanning e Johnny Flynn em Ripley

Na época, o Showtime estava em outra vibe. E abraçou a ideia, mesmo que o lançamento demorasse, afinal a produção iria exigir muito apuro. As gravações tiveram de ser adaptadas aos protocolos contra a Covid-19; as câmeras foram ligadas em 2021. 

Por mais que estivesse perto de ficar 100% pronta, Ripley não aparecia no radar do Showtime. Por isso ela foi colocada no mercado, ficando pouquíssimo tempo na vitrine.

Acabou sendo um investimento interessante da Netflix, que não esconde a tendência de apostar mais no popular do que na qualidade artística de suas séries originais. Lá, existe uma fórmula de como fazer um drama virar hit no mundo todo, usando como base dados extraídos dos assinantes. Os algoritmos ajudam a produzir séries de sucesso, por mais que saiam parecidas, sem tanta distinção assim entre uma e outra. A pasteurização prevalece.

Ripley é um sopro de ar fresco e serve de ótimo contraponto. Não é surpresa que a minissérie não tenha entrado no ranking de audiência top 10, no Brasil, por exemplo. Mas também não será surpresa sua presença no Emmy de 2024, pois está cotada a brigar pelos prêmios técnicos nas categorias de minissérie.

Confira a sinopse de Ripley: Tom Ripley (Andrew Scott) é um trambiqueiro de Nova York nos anos 1960 contratado por um homem muito rico para ir até a Itália e convencer seu filho, um playboy vagabundo, a voltar para casa. Mas aceitar o trabalho foi só o começo de uma teia de trapaças, fraudes e assassinatos.

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