A série teen My So-Called Life, que completa 30 anos neste domingo (25), é dona de uma cadeira cativa na história da TV. Embora tenha durado apenas uma temporada, exibida de 1994 a 1995, o drama foi aclamado pelo público e mídia especializada, rapidamente ganhando um status de cult que perdura até hoje.
Com o protagonismo de Claire Danes, famosa por Homeland, My So-Called Life foi batizada no Brasil de Minha Vida de Cão, exibida pelo SBT e Multishow, em uma época na qual o canal do grupo Globo exibia séries. Atualmente, a atração está indisponível nos streamings. É possível encontrar o DVD da primeira e única temporada na internet, basta ter cuidado com cópias piratas.
Existe uma razão para My So-Called Life ser tão exaltada. Em meados dos anos 1990, a série quebrou barreiras ao mostrar a jornada de uma adolescente mais próxima da realidade, contrastando com o que existia na TV naquela época, como a juventude de beldades e galãs de Barrados no Baile, inseridas em um cenário novelesco.
Claire eternizou a personagem Angela Chase, uma garota de 15 anos que enfrentou os desafios típicos da adolescência. Ambientada na fictícia Liberty High School, a narrativa explorou de maneira profunda e autêntica as complexidades das relações familiares, amizades e o processo de autodescoberta.
Temas densos ganharam espaço, como sexo, o que não era comum de se ver em uma atração da TV aberta americana; foi exibida pela rede ABC. Outra razão que coloca My So-Called Life na história é ter sido a primeira série de uma emissora de sinal aberto dos Estados Unidos a ter um personagem gay assumido.
Foram apenas 19 episódios. Mas isso bastou para inserir o drama no circuito de premiações, emplacando quatro indicações ao Emmy: atriz (Claire Danes), roteiro, direção e música da vinheta de abertura.
No Globo de Ouro, Claire simplesmente ganhou o troféu de melhor atriz de drama, aos 15 anos. Ela derrotou nomes veteranos do nível de Kathy Baker (Picket Fences), Angela Lansbury (Murder, She Wrote), Heather Locklear (Melrose Place) e Jane Seymour (Dra. Quinn, a Mulher que Cura).
É justo questionar sobre qual o motivo do cancelamento, visto que a série desfrutava de tanto prestígio. A audiência não foi um problema sério, entretanto pesou na conta. O problema é que a concorrência era pesadíssima, disputando público com nada menos do que Friends e Martin (sitcom de Martin Lawrence com Tisha Campbell e Tichina Arnold).
O que resultou mesmo no cancelamento foi a decisão de Claire Danes de deixar a série. Reforçando: ela era ainda uma adolescente, e as longas gravações causavam um impacto decisivo em sua rotina de estudos. Ela simplesmente não conseguiu equilibrar trabalho e escola na tenra idade.
Trinta anos depois, Claire é uma das atrizes de ponta da TV americana. Só como atriz, são oito indicações ao Emmy, com duas estatuetas ganhas por Homeland (2013 e 2012) e uma pelo telefilme Temple Grandin (2010). Desde o fim de Homeland, em 2020, ela já fez séries na Apple, FX (Disney+) e Max. Seu próximo projeto é na Netflix.
São tantos prêmios e glórias… Mas Claire ainda é lembrada por My So-Called Life. Durante entrevista para a revista The Hollywood Reporter, no ano passado, a veterana de 45 anos falou sobre seu primeiro trabalho de destaque da longa e prestigiada carreira. A série foi citada pela atriz ao ser questionada sobre o que os fãs normalmente dizem quando a encontram na rua.
“É chocante a quantidade de pessoas que se aproximam de mim e falam de My So-Called Life, demonstrando apreço”, contou Claire. “Tipo, [a série] foi ao ar há muuuuuiiiiiito tempo, mas os adolescentes [de hoje] ainda conseguem encontrá-la”. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br