O cineasta Woody Allen anunciou que fará o último filme da carreira. Ícone do cinema mundial, o roteirista e diretor se arriscou no mundo das séries uma única vez, em projeto bizarro e singular feito para o Prime Video. Chamada de Crisis in Six Scenes, a comédia protagonizada por Miley Cyrus é terrível, mico no currículo da lenda. Mesmo assim, você precisa assistir.
Há um tempo, Woody Allen, 86 anos, fala que vai deixar o cinema. Parece que agora é pra valer. Em entrevista a um jornal espanhol, ele revelou que o próximo filme, Wasp 22, gravado em Paris e totalmente falado em francês, será o derradeiro. Esse é o 50º filme do cineasta.
Quando a onda de gente do cinema migrando para a TV ainda era pequena, em meados da década passada, Woody Allen resolveu aceitar o desafio de fazer uma série. Após o lançamento da atração, em 30 de setembro de 2016, ele foi só lamentos, dizendo que se arrependeu de ter embarcado nessa furada.
Conheça Crisis in Six Scenes, de Woody Allen
A trama de Crisis in Six Scenes é simples. O resultado é satisfatório apesar de o conjunto da obra não ser extraordinário. Se comparada a outros projetos de Woody Allen, é uma produção abaixo da média. Mas em relação a tantas outras séries por aí, a comédia é válida, entrega uma história pitoresca e apresenta um desfecho divertido.
Na narrativa ambientada nos Estados Unidos da turbulenta década de 1960, Woody Allen é Sidney Munsinger, um escritor aposentado que curte o descanso enquanto pensa em se arriscar em uma nova carreira.
A rotina do lar muda quando a mulher, Kay (Elaine May), deixa a jovem Lennie (Miley Cyrus), uma procurada militante esquerdista radical, ser hóspede na casa deles. Lennie fica absolutamente à vontade e planeja protestos. Discussões políticas e sociais interessantes entram em cena.
Composta de seis episódios com menos de 30 minutos cada, Crisis in Six Scenes é certeza de uma experiência incomum, pode acreditar. Vale pela curiosidade de testemunhar esse trabalho inusitado de Woody Allen. E de tabela dá para ver Rachel Brosnahan (The Marvelous Mrs. Maisel) e David Harbour (Stranger Things) participando da série.
Woody Allen fez de tudo em Crisis in Six Scenes: dirigiu, roteirizou e atuou. Percebe-se, assim, que ele conseguiu imprimir características próprias na série, como os diálogos sagazes e rápidos. Mas o que azedou o produtor foi o processo longe do set.
Allen nunca se deu bem com a Amazon, dona do Prime Video, que tinha vencido a concorrência (leia-se: Netflix) para contratar o cineasta renomado; ele faria séries e filmes para a plataforma.
A estrutura do streaming não agradou Allen e a parceria parou na Justiça, com pedidos de rompimento de contrato e cobrança de multa. Tudo foi acertado no tribunal. O diretor nunca mais sequer indicou uma volta ao streaming.
A história do cinema tem um lugar reservado para Woody Allen. Ele é o recordista no Oscar com 16 indicações na categoria melhor roteiro. Como diretor, ganhou quatro estatuetas.
Na vida pessoal, Allen tem um histórico manchado por ser acusado de vários abusos sexuais, incluindo violentar Dylan Farrow, a filha adotiva do diretor e da atriz Mia Farrow, quando ela tinha apenas sete anos. O cineasta sempre negou as acusações e, até agora, nunca foi encontrada nenhuma prova contra ele para condená-lo.
(Em tempo: na segunda-feira (19), Woody Allen disse em comunicado enviado à imprensa que não pretende se aposentar. Ele justificou a fala publicada pelo jornal espanhol como erro de interpretação do veículo)
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br