Há cinco anos, premiações hollywoodianas discutem os prós e contras de categorias de atuação de gênero neutro, que juntam atores e atrizes na mesma disputa. Essa prática é realidade em cerimônias de menor expressão, como as da MTV e TCA (associação americana dos críticos de TV). O Emmy estuda se deve ou não implementar isso, enquanto a indústria aguarda qual primeira grande premiação (Oscar, Globo de Ouro ou Critics Choice) vai dar o primeiro passo.
Desde 2017, a premiação da MTV sobre filmes e séries não aplica distinção de gênero nas categorias de atuação. Segue-se a lógica de outras categorias, como direção e roteiro, nas quais qualquer pessoa está apta a concorrer. E como não se trata de uma competição em que se mede a desenvoltura física, onde o homem naturalmente leva vantagem, realmente não tem porque dividir.
Além de medir a qualidade da atuação juntando homens e mulheres, as categorias de gênero neutro são universalmente benéficas, sobretudo a quem não se identifica com gênero algum (pessoa não binária).
Frank Scherma, diretor-executivo da Academia de Televisão americana (organizadora do Emmy), falou sobre o assunto em entrevista ao site Variety. “Já conversamos sobre se vamos adotar o gênero neutro nas categorias”, revelou. “Queremos assegurar que não irá haver favorecimentos.”
O presidente da Academia, Maury McIntyre, estendeu mais o argumento. “Temos que tratar isso com o sindicato dos atores”, esclareceu. “Você precisa saber se não está fazendo algo que irá colocar um grupo de atores em desvantagem e outros em vantagem. Sem querer, você não sabe quais vão ser as consequências disso.”
“Ao mesmo tempo, reconhecemos que estamos em uma época diferente. Estamos em uma era diferente de quando a TV começou, uma era diferente do ponto de vista social”, continuou McIntyre. “Hoje, reconhecemos todos os tipos de identidade de gênero. Como respeitamos todos os tipos de gênero em nosso sistema atual, isso [categorias neutras] é algo sobre o qual continuaremos a debater por um tempo.”
Os pormenores
O ponto positivo indiscutível das categorias de gênero neutro é abrir as portas para qualquer pessoa. O que trava a discussão, que é a preocupação do Emmy, é como tentar um balanceamento entre os indicados, para início de conversa.
Juntar todo mundo não poderia favorecer os homens, com mais concorrentes do que os outros gêneros? Isso acontece em categorias de direção e roteiro, para citar dois exemplos. No TCA deste ano foi diferente, serve como contraponto.
A 38ª edição do TCA Awards, realizada no mês passado, indicou oito atores na categoria melhor atuação em comédia (três homens e cinco mulheres) e dez estiveram na briga da melhor atuação em drama (quatro homens e seis mulheres). Atrizes prevaleceram e venceram as duas disputas.
Esse tipo de conta e equiparação será recorrente, não tem jeito. Mas é questão de hábito, com o passar do tempo todos vão se acostumar com as categorias de gênero neutro. O caminho é sem volta, basta uma grande premiação agir primeiro.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br