A gozação acerca de And Just Like That…, na primeira temporada, era de que só a cidade de Sex and the City deu às caras na continuação da franquia. Sem sexo, sombria e muito politizada, a leva inicial foi digerida amargamente. Atentos, produtores e roteiristas ouviram as reclamações do público e mudaram o rumo da série filhote. Agora tem sensualidade e erotismo envelopados em uma narrativa light e gostosa de acompanhar. E a militância não foi para debaixo do tapete, apenas deixou de estar no centro das atenções.
São emblemáticas as primeiras cenas da segunda temporada de And Just Like That…, lançada na semana passada na HBO Max. A comédia mostra logo de cara todas as personagens em lingeries sensuais prontas para o sexo, contando até com nudez. É como se a série dissesse aos telespectadores: “Não é isso que vocês queriam? Então toma!”
Cada jornada das personagens principais seguem caminhos divertidos e sutis. Não há mais espaço para o luto (Carrie, de Sarah Jessica Parker), jornada de aceitação LGBTQIA+ (Charlotte, de Kristin Davis) ou divórcio e consciência racial (Miranda, de Cynthia Nixon). Esses temas foram sabiamente colocados como acessórios, compondo a trama ao invés de movê-la. O contrário moldou a primeira leva de episódios e descaracterizou a franquia.
Racismo e luta em prol do meio ambiente são temas que já apareceram no retorno de And Just Like That…, mas sempre como apoio na trajetória das personagens. A preocupação delas é fazer relacionamentos darem certo, descobrir qual a melhor forma de fazer sexo, travar briga com um brechó chique, achar vestido para usar em um baile de gala… Ou seja, questões nem tão importantes socialmente, mas que são a cara do universo Sex and the City.
Nessa largada, And Just Like That… demonstrou vigor. Começou muito boa, e a expectativa é que a rota até o final da temporada seja no mesmo nível. O woke não pode e nem deve ser descartado completamente. Porém, o espírito Sex and the City tem de sondar a atração derivada por onde quer que vá, sempre a lembrando de quem ela é filha.
O próprio criador da série da HBO Max, Michael Patrick King, reconheceu a necessidade de pular de trilho. Ele fez uma analogia interessante para explicar a mudança de tom.
“O clima mais escuro da primeira temporada foi necessário”, justificou o showrunner, em entrevista ao site TVLine. “O oposto da escuridão é a luz. Agora [a segunda temporada] é a luz. E se [a primeira] foi o inverno, agora entramos na primavera”.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br