Chega ao fim, nesta quinta-feira (18), nos Estados Unidos, mais uma temporada de Grey’s Anatomy. Não perca as contas: é a 19ª. E não para por aí, pois a 20ª leva de episódios já foi encomendada. Existe grande possibilidade de o drama médico completar duas décadas no ar (foi lançado em 2005). O que explica tamanha longevidade?
O sentimento que brota após o fim de cada temporada ajuda a entender a razão do sucesso eterno de Grey’s Anatomy. Ressurge a sensação de vazio por ter de parar de acompanhar a vida daqueles personagens durante alguns meses (devido à greve de roteiristas, o retorno deve demorar mais do que o normal). É como se os personagens fossem amigos dos telespectadores, criando uma preocupação genuína sobre o que estão fazendo da vida.
Fulano casou ou está só enrolando? Aqueles dois finalmente vão ir além da amizade e oficializar o namoro? Sicrana conseguiu a promoção no trabalho? Como Beltrano está após receber diagnóstico de doença?
Sentimentos corriqueiros que cada pessoa tem com amigos próximos são espelhados em Grey’s. Há uma relação profunda e intensa entre o público e os personagens, sejam eles veteranos ou mais novos. O grande trunfo da série é a reinvenção, tirar da cartola boas histórias mesmo em momentos delicados, como visto na 19ª temporada.
O time de roteiristas e produtores bolaram uma boa sacada para tentar superar o maior obstáculo enfrentado por Grey’s em todos os tempos. A grande estrela da trama, Ellen Pompeo, anunciou que daria um tempo, afastando sua personagem icônica, Meredith Grey, da narrativa. Dois planos foram executados visando suprir a ausência gigantesca: resgatar atores do passado e apresentar uma nova classe de residentes.
A escolha de Kate Walsh, a memorável Addison Montgomery, foi cirúrgica (com perdão do trocadilho). Ela retornou com tudo, encabeçando um arco narrativo potente e necessário sobre o aborto, liderando episódios que cravaram lugares cativos no rol dos melhores momentos do drama médico. Jesse Williams, na pele de Jackson Avery, também voltou a bater cartão no hospital Grey Sloan Memorial.
O time de residentes montado foi outro acerto. Os cinco novos personagens conseguiram, em pouco tempo, ganhar a tão desejada empatia dos telespectadores. Nesse quinteto tem casamento à vista, romance proibido, dinâmica é-namoro-ou-amizade, superação, revelação de doença silenciosa… Criou-se, então, fortes vínculos afetivos com o público, mantendo a roda de Grey’s Anatomy girando.
Existem outras séries tão longevas quanto Grey’s, como NCIS (20 temporadas) e Law & Order: SVU (24). Mas diferentemente desses dois dramas policiais, a atração médica é maratonada desde o início pelo fã novato, o que não ocorre, necessariamente, com outras atrações. Nos Estados Unidos, a série médica é uma das mais vistas no mundo dos streamings, quarta colocada no ranking top 10 de 2022, performance que comprova essa tese.
Ver Grey’s desde o primeiro episódio só alimenta ainda mais a conexão telespectador-personagens, cujo pulsar aumenta com o passar das temporadas.
A pessoa acaba assistindo o drama médico, sem abandonar a história no meio do caminho, não por ser excelente e imperdível, mas para não deixar de saber o que personagem X ou Y está aprontando desta vez. É uma interação especial.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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