ANÁLISE

Yellowstone, a série progressista dentro de um santuário conservador

Drama rural provocante dá no na cabeça de quem tenta rotulá-lo
DIVULGAÇÃO/PARAMOUNT
Cole Hauser e Kevin Costner (ao fundo) em Yellowstone
Cole Hauser e Kevin Costner (ao fundo) em Yellowstone

A divisão política e ideológica presente na sociedade contemporânea afeta uma das maiores séries da atualidade. Yellowstone chega com a quinta temporada, que estreia neste domingo (11) no Paramount+, no centro de um debate sobre o que a narrativa representa. Definir um status em pedra não dá, pois a trama mistura fortes elementos progressistas dentro de um ambiente conservador. É um nó proposital e, francamente, bem-vindo.

Isso porque a série, além de entreter por apresentar boas histórias e encantar com uma ótima produção visual, provoca reflexões válidas. Tem-se ali o que pode ser chamado de o último reduto conservador. É a masculinidade sendo defendida a unhas e dentes (literalmente), homens que são turrões e não dão o braço a torcer para a modernidade, (muitas) armas e brigas de soco, relatos da vida de caubói real e não de clipe de música sertaneja…

Ao mesmo tempo, porém, Yellowstone é progressista no sentido mais puro da expressão. Como poucas séries da história da TV, ela abre espaço para uma narrativa genuína sobre a população indígena nos Estados Unidos, a colocando no centro dos acontecimentos e revelando o ponto de vista deles acerca dos mais diversos tópicos, de preservação de terras a rituais sagrados, passando pelo protagonismo feminino.

As mulheres, inclusive, estão sob os holofotes no drama rural. Elas são retratadas como independentes, fortes e empoderadas, buscando alcançar os próprios sonhos, seja na vida pessoal/amorosa ou profissionalmente.

Piper Perabo em cena de Yellowstone
Piper Perabo em cena de Yellowstone

Para um lado entender o outro

Yellowstone tem uma identidade particularmente intrigante. A série é, sem se contradizer, anticapitalista e conservadora. Enquanto o protagonista John Dutton (Kevin Costner) luta sem cessar pela preservação do seu rancho gigantesco, ele impede o progresso econômico da região. 

Agora como governador do Estado de Montana, John declara com todas as letras que irá combater o modernismo, expulsando quem vem de fora tentando, segundo ele, alterar o estilo de vida local, mais pacato e simples. Ele vai batalhar para manter o status quo da região, defendendo o campo contra grandes empreiteiras que, em prol do lucro, querem cimentar áreas verdes.

O interessante da série é que o público que sintoniza para ver essa vertente tradicionalista irá se deparar com um progressismo forte; e vice-versa. Isso é bom para, quem sabe, um lado possa civilizadamente entender o ponto de vista do outro.

Uma personagem nessa quinta temporada é o símbolo disso. Apresentada na leva anterior, a ativista Summer Higgins (Piper Perabo) vai aparecer novamente na cola de John Dutton. Defensora dos animais, ela tem uma química curiosa com o fazendeiro pecuarista; ambos têm visões diferentes do mundo. Como ela vai ser amiga de alguém que cuida de gado para depois abatê-lo e se alimentar dele?

Esse contraste vem à tona para justamente trazer uma empatia. John está disposto a entender o que ativistas como Summer realmente querem. Ele também quer mostrar a ela o que significa a vida no rancho, expondo como ele protege, ao seu modo, a natureza. 

Eis o relacionamento-chave de uma das essências de Yellowstone, provocando desconforto com uma interação incomum, importante e relevante para os dias atuais.


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