ANÁLISE

The Last of Us: preciosismo que proíbe a palavra zumbi é sinal de arrogância

Fugir do termo só dificulta a comunicação com o público médio
DIVULGAÇÃO/HBO
Pedro Pascal na série (não) zumbi The Last of Us
Pedro Pascal na série (não) zumbi The Last of Us

Existem duas formas de responder a seguinte pergunta: por que a palavra zumbi foi proibida de ser dita em The Last of Us? A primeira é pelo ponto de vista de quem fez a série hit da HBO. A segunda leva em consideração uma análise mais prática. Seja como for, a proibição foi levada a sério durante as gravações do drama, situação diferente do que ocorreu em The Walking Dead, por exemplo, trama na qual a palavra zumbi nunca foi proferida.

Esse assunto surgiu após revelação de Eben Bolter, diretor de fotografia que trabalhou em quatro episódios de The Last of Us. “Nós não tínhamos permissão para dizer a palavra Z no set”, disse em entrevista ao site The Credits, dedicado a contar ao público o que acontece atrás das câmeras.

A palavra [zumbi] foi proibida”, continuou. “Eles eram os infectados. Não somos uma série zumbi. Claro, há tensão, sustos… mas a trama é realmente sobre nossos personagens. E os infectados são um obstáculo com o qual eles têm que lidar.”

Bolter justificou a rejeição: “[The Last of Us] não é uma produção clichê de zumbis, não é um filme artificial de Hollywood onde todos os takes [tomadas] são perfeitos. É um mundo de naturalismo cinematográfico orgânico, tudo é palpável.”

No caso, os infectados são humanos contaminados por um fungo que ataca o cérebro, os transformando em criaturas mutantes, ganhando novas formas. Agressivos, eles passam a partir para cima de pessoas e animais.

Parecem zumbis, certo? Por questões meramente técnicas, não se diz zumbi em The Last of Us. No fundo, porém, essa proibição é puro preciosismo e dificulta até mesmo a comunicação com a maior parte da audiência, aquela que está por fora de cada detalhe da franquia e, ao bater o olho no tal infectado, diz: “olha um zumbi aí.”

A postura adotada na série da HBO é arrogante, quase elitista, para se distanciar de outras produções zumbis hollywoodianas, muitas destas integrantes do estilo thrash, e se colocar em uma posição acima, de superioridade, indiretamente se autodeclarando uma produção mais gabaritada e rebuscada.

Não seria problema se a palavra zumbi não fosse pronunciada pelos personagens por causa de uma justificativa cuja defesa teria fundamento na licença criativa. Agora, não falar disso abertamente por trás das câmeras ou em entrevistas é um refinamento exagerado.

The Last of Us versus The Walking Dead

A comparação com The Walking Dead é inevitável, pois lá também os personagens nunca disseram a palavra zumbi ao se referir aos mortos-vivos. A motivação, porém, é totalmente diferente.

Em The Last of Us, os zumbis (ops, os infectados…) são chamados de corredores, estaladores, baiacus, trôpegos, entre outros nomes. Em The Walking Dead, os mortos-vivos eram os caminhantes, errantes… Contudo, TWD sempre foi tratada como série zumbi, pelos produtores, roteiristas e atores.

A justificativa de The Walking Dead tem origem na HQ na qual a série se baseou. Robert Kirkman, o criador do mundo The Walking Dead, não usava zumbi porque, segundo ele, naquele universo a palavra não existia. 

Essa característica se manteve nas 11 temporadas da série. Já no quadrinho, após algumas dezenas de edições publicadas, a palavra zumbi começou a aparecer, ocasionalmente, porque Kirkman esgotou os sinônimos possíveis. “Que se dane! Eles [mortos-vivos] são zumbis”, disse certa vez o autor em entrevista publicada na HQ. “Todo mundo vai chamá-los de zumbis. Quem se importa?”.


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