
Após hiato de mais de dois anos, The Last of Us volta com a segunda temporada, que estreia na HBO e na Max no domingo (13). Indicada ao Emmy de melhor drama, a atração retorna na mira dos fãs mais conservadores do game homônimo que torcem o nariz para cada alteração que a série executa em comparação ao material matriz.
Pois quem é dessa turma pode ir se preparando, que vem aí um caminhão de mudanças.
Quem lidera essas decisões criativas, na maioria dos casos, é Neil Druckmann, que é tanto cocriador do game quanto cocriador da série (na TV, divide o posto com Craig Mazin). Ambos sabem muito bem que atravessam uma ponte de vidro, estilo Round 6, onde qualquer deslize ou decisão errada pode ser fatal.
A missão mais árdua deles é justamente a de satisfazer os fãs do game, que analisam o drama com lupa para flagrar cada deslize; isso sem esquecer do público que vê a série com novos olhos, sem conhecimento prévio do joguinho.
Druckmann já sofreu bastante com isso, chegando a demonstrar traços da síndrome do impostor, acreditando que estava estragando a magia do game ao fazer a série de TV. Hoje, ele criou uma casca grossa e não deixa os comentários negativos o derrubarem.
“Amei as mudanças que fizemos”, disse, falando sobre o que vem aí em entrevista ao site Variety. “É uma versão diferente da história [matriz], mas o DNA está lá. Talvez mais do que empolgado, estou realmente curioso sobre qual será a reação do público.”
Uma discórdia se deu com a escalação de Kaitlyn Dever, atriz indicada ao Emmy (minissérie Dopseick), no papel de Abby. O problema seria com o físico da atriz, mais frágil do que o da personagem, digamos assim. Druckmann defendeu essa escolha, afirmando que, na série, Abby não precisa se impor tanto assim como no game; sua força não é algo crucial para a trama.
Ele ainda acrescentou: “Kaitlyn Dever queria trabalhar conosco; nós queríamos trabalhar com ela. Não vale a pena deixar passar essa oportunidade apenas para continuar uma busca que pode resultar em nada, uma busca para encontrar alguém que combine com o físico de Abby do game.”
O roteirista e diretor, contudo, chegou a esse equilíbrio após sofrer uma onda abominável de ataques online, recebendo mensagens carregadas de antissemitismo, misoginia e homofobia, além de ameaças de morte.
Mazin acabou sendo a mão salvadora, encorajando o colega a superar esses ataques de ódio e seguir com o trabalho que acredita ser o certo para a série The Last of Us; e assim o fez.
A segunda temporada de The Last of Us dá início à adaptação do game The Last of Us 2; Mazin já deixou claro que será preciso múltiplas temporadas para concluir a narrativa do jogo. O gameplay é extenso: quem joga e somente se dedica à história principal, sem realizar missões paralelas, demora cerca de 24 horas para “zerar” (chegar ao fim). •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br