O drama The Boys provoca interpretações diversas e opostas. Tem quem rotula a série de woke*. Ao mesmo tempo, pessoas veem Capitão Pátria (Antony Starr) como um herói a ser idolatrado. Eric Kripke, criador da série, tratou dessas duas perspectivas ao falar sobre a quarta temporada, lançada nesta quinta-feira (13), no Prime Video, a leva mais politizada da atração até agora.
As mensagens sociais e políticas transmitidas por The Boys são enviesadas, sim, conforme disse o showrunner em entrevista ao site The Hollywood Reporter. Enquanto colegas de profissão tradicionalmente fogem pela tangente ao falar sobre uma suposta isenção no processo criativo, Kripke não esconde a parcialidade inserida no desenvolvimento de The Boys.
“Eu claramente tenho uma perspectiva, tomo partido e não tenho vergonha de colocar essa perspectiva na história”, afirmou. “Quem quiser rotular a série de woke ou algo do tipo, tudo bem. Vá assistir outra coisa.”
Ele comentou que “certamente” não pedirá desculpas pelo que criou e está fazendo. A audiência, muitas vezes, interpreta o que vê por sua própria ótica, gerando assim uma visão totalmente diferente do que se estabeleceu para um personagem, por exemplo. Quem acha que o Capitão Pátria é um herói tipo mito, segundo Kripke, não captou a mensagem direito e está assistindo The Boys de maneira errada.
“Algumas pessoas pensam que o Capitão Pátria é o herói. O que direi sobre isso? The Boys é muitas coisas, sutil não é uma delas. Então, se essa é a mensagem que você entendeu [de Capitão Pátria ser o herói], não tenho muito o que fazer.”
Na quarta temporada de The Boys, ocorre uma eleição para a Presidência dos Estados Unidos, com a campanha abalada por forças fascistas. Pode parecer algo copiado de manchetes jornalísticas, tal qual Law & Order: SVU, mas realmente é uma pura coincidência, pois os roteiros foram escritos há cerca de dois anos.
Esse paralelo é bizarro. “Dois anos depois de finalizar os episódios, descobrimos que as notícias refletem com precisão tudo o que estamos falando”, comentou o criador da série.
Kripke enfatizou que, desde o nascimento, The Boys tem por objetivo ser “uma versão muito realista de uma série de super-heróis, onde eles são celebridades que se comportam mal”, ressaltou.
“Nossa história é sobre a intersecção entre celebridade e autoritarismo, sobre como as mídias sociais e o entretenimento são usados para vender o fascismo.”
A quarta temporada de The Boys estreou na quinta-feira (13), com os três primeiros episódios. Depois, um novo capítulo entra no Prime Video toda quinta, até 18 de julho.
*Explicação do termo woke
Em resumo, woke significa estar desperto ou atento a questões sociais, políticas e injustiças. Uma pessoa woke é socialmente consciente e engajada em promover a igualdade e a justiça social; isso em tese.
No entanto, o termo também foi cooptado e às vezes usado de maneira pejorativa para descrever atitudes ou comportamentos percebidos como excessivamente politicamente corretos ou radicais. Em certos contextos, woke pode ser usado de forma crítica para sugerir que alguém está exagerando ou sendo moralmente superior.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br