
Na sitcom The Big Bang Theory (2007-2019), a personagem mais interessante é Penny (Kaley Cuoco), isso devido à sua evolução durante as 12 temporadas. O detalhe é que isso aconteceu porque o seu ponto de partida foi bastante baixo, inserida na trama apenas como a loira burra gostosona. Criador da comédia, Chuck Lorre admitiu que errou na criação de Penny, feita para se encaixar em um clichê barato.
Bastante sincero, o showrunner, considerado o rei das comédias da TV americana, falou tudo em entrevista ao podcast oficial de The Big Bang Theory, lançado neste mês. O projeto de áudio surgiu para revelar os bastidores de uma das sitcoms mais populares deste século.
Lorre foi um dos convidados do episódio de estreia, logicamente, ao lado do executivo Peter Roth, ex-presidente da Warner Bros. Television, produtora da série. Penny entrou na conversa quando passaram a falar sobre o piloto (primeiro capítulo) que foi rejeitado (sem Penny) e o que foi aprovado (com Penny).
“Ela era uma personagem clichê: a loira burra. Isso foi um erro”, reconheceu Lorre, ao lembrar dos passos iniciais de Penny. Ele esclareceu que só depois de um tempo foi percebido o que a vizinha dos amigos nerds poderia agregar à história, qualitativamente falando, explorando a sua aptidão social. “Ela apresentava uma inteligência diferente da deles, uma sabedoria sobre pessoas e relacionamentos diversos.”
O showrunner confessou que demorou mesmo para perceber isso. “Certamente, no começo, ela era unidimensional em muitos aspectos”, comentou. “Mas o bom de uma série de TV é que, com o passar dos dias, você ganha oportunidades para aprender, corrige erros e vê o que funciona.”
Penny “trouxe uma humanidade que eles [seus amigos nerds] não tinham”, contou o roteirista e produtor. “Ela nunca julgou nenhum desses personagens.”
A cada temporada, a personagem de Kaley Cuoco foi acumulando conhecimento, chegando a surpreender a todos ao agir como uma cdf. Isso gerou vários momentos engraçados, como quando, naturalmente, fez referência ao universo Star Trek ao discutir com uma vizinha.
Nesse progresso, ela demonstrou ser rainha do xadrez, discutia física com propriedade e desvendava experimentos mentais, como o famoso Gato de Schrödinger. Penny atingiu um nível tal que ela apresentou uma solução que ajudou o amigo Sheldon Cooper (Jim Parsons) a ganhar o tão cobiçado Prêmio Nobel de Física.
No 13º episódio da 11ª temporada, Sheldon estava frustrado por não conseguir se livrar de um bloqueio intelectual. Ele até abandonou os estudos sobre a teoria das cordas para se concentrar em matéria escura. E foi logo a Penny quem desatou os nós e deu uma solução brilhante para o amigo nerd.
Usando um raciocínio lógico e simples, a loira (burra?) destravou o pensamento de Sheldon e abriu novas possibilidades para a pesquisa, culminando na descoberta da superassimetria.
Ao chegar em casa, o marido Leonard (Johnny Galecki) perguntou sobre o jantar que ela tinha prometido trazer: “Desculpe”, respondeu. “Tive que ajudar o Sheldon a solucionar a teoria das cordas”. Leonard ficou de novo sem palavras e boquiaberto, sem entender nada do que acabou de acontecer. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br