
Com apenas 0,2% de audiência no mercado televisivo americano, o Apple TV+ é só prejuízo para a Apple, uma das maiores empresas do mundo. Reportagem do site The Information, especializado em tecnologia, apresentou um dado que ilustra isso. O streaming da maçã provoca, por ano, um rombo de mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,66 bilhões) nos cofres da companhia dos celulares, tablets e computadores mais cobiçados do planeta.
De conglomerado histórico de Hollywood (como o Paramount) a empresa de fora do mundo do entretenimento (tipo Amazon), quem investiu em plataformas de streaming na última década perdeu -e perde- muito dinheiro. Toda regra tem exceções, com somente Netflix e Max (serviço da Warner) conseguindo lucrar nesse segmento.
O detalhe que salva o Apple TV+ da extinção é que essa perda bilionária é um cisco em comparação com o lucro anual da Apple, fortuna que é capaz de absorver esse prejuízo. Exemplo: no ano fiscal de 2024, a receita anual da Apple foi de US$ 391 bilhões.
Em 2019, a empresa da maçã decidiu fazer séries próprias e lançar em um streaming caseiro, plataforma essa que não oferece conteúdo de terceiros. A identidade criada naquela época, e que permanece, é de oferecer produções de altíssima qualidade, realizadas pelos principais profissionais de Hollywood. E isso é verdade até hoje.
Porém, dinheiro não nasce em árvore, muito menos perto da maçã da Apple. Basicamente, em média, o departamento financeiro dispensava US$ 1 bilhão/ano na produção de conteúdo. Em 2024, porém, esse investimento caiu pela metade.
Ninguém questiona o primor das séries do Apple TV+. São atrações elogiadas pela mídia especializada e consagradas pelo público, com uma, Ted Lasso, virando referência na cultura pop, algo que todo streaming sonha emplacar.
Ted Lasso, inclusive, deu ao Apple TV+ duas estatuetas do Emmy de melhor comédia (2021, 2022); outra comédia do catálogo indicada nessa categoria foi Palm Royale, no ano passado.
Desde 2020, três séries concorreram ao Emmy de melhor drama (Ruptura, The Morning Show e Slow Horses) e uma atração disputou o prêmio de melhor minissérie (Uma Questão de Química).
Talvez para não queimar o próprio filme, a Apple é bastante sigilosa com os dados do seu streaming, como número de assinantes pelo mundo e os números de audiência de suas produções. O que se tem por aí são apurações independentes.
Uma delas, organizada pelo site Bloomberg, apontou que a fatia de audiência do Apple TV+ é de apenas 0,2% de todo o mercado televisivo americano. Em outras palavras: o que o Apple TV+ consegue atingir de audiência em um mês inteiro é menos do que a Netflix gera em um único dia. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br