O ano de 2023 nem começou direito e a Netflix cancelou mais uma série após uma única temporada. A vítima da vez foi o drama alemão 1899. Assim, aumentou a lista das atrações que chegaram ao fim abruptamente, sem um desfecho satisfatório da história apresentada. A consequência disso é que tem crescido o número de pessoas que só passam a acompanhar uma série depois do lançamento da segunda leva de episódios, no mínimo.
A Netflix nunca foi muito transparente sobre os motivos reais desses cancelamentos repentinos. Pelo o que se sabe, diversos fatores pesam na decisão, seja audiência baixa, pouco engajamento ou repercussão negativa na mídia.
Independentemente disso, por essas serem variáveis incontroláveis, a gigante do streaming tem de bolar um plano para amenizar os cancelamentos a jato, pois realmente alguns deles são inevitáveis para a saúde financeira da empresa como um todo.
Duas saídas são possíveis. Uma é orientar os criadores a desenvolverem a temporada de estreia com a maioria dos arcos narrativos fechados, funcionando quase como uma minissérie. Outro caminho é diminuir o orçamento das produções que não são tão badaladas assim, aquelas sem a certeza de que vão dar certo.
Temporada fechada
A alternativa de fazer uma temporada inicial com boa parte da trama concluída no final serve para que o possível cancelamento não seja tão decepcionante. Afinal, as histórias principais propostas pela narrativa serão concluídas.
Caso a série vá mal de audiência ou seja cancelada por outros motivos, pelo menos o público que se aventurou acompanhando a atração recebeu um final minimamente digno. A Netflix fez algo assim com Seven Seconds (2018), concebida para ter múltiplas temporadas. Sem a renovação, a plataforma classificou o drama criminal como minissérie.
E se essa hipotética série for bem e ganhar uma renovação, a temporada seguinte chega como se fosse um brinde.
Tradicionalmente, pelo modelo da TV aberta e paga americana, os criadores projetam a conclusão de uma narrativa na quinta temporada. Com o streaming, o planejamento padrão vai até a terceira leva, que era a visão original dos desenvolvedores de 1899.
Tem como a Netflix sugerir uma nova abordagem. O criador faz uma temporada quase toda fechada, mas deixando possibilidades para uma renovação. O desafio, fácil de ser feito, é apresentar uma leva inicial que tenha um final apropriado ao mesmo tempo que ofereça a possibilidade de continuação.
Baratear os custos
Esta proposta é complicada porque, para chamar a atenção do público, bombardeado de opções sortidas na própria plataforma, uma série tem de chegar forte na primeira temporada para chamar a atenção. Isso está diretamente ligado ao investimento dispensado na produção.
Um dos fatores que mais pesam na renovação é o custo. A série pode até ir relativamente bem de audiência e repercussão, mas se o orçamento for muito alto, a renovação não vale a pena.
Para as atrações que trafegam fora do radar, a Netflix poderia diminuir o investimento na primeira temporada. Se o projeto não vingar, que seja feita uma leva derradeira apenas para finalizar a história, mesmo que com menos episódios em comparação com a temporada inicial.
Com o investimento menor de cara, essa temporada de emergência, de conclusão, caberia no bolso, não pesando tanto no orçamento. Seria um esforço interessante da gigante do streaming, tudo para não desapontar o assinante que paga (caro) pelo acesso ao conteúdo oferecido.
Dessa forma, o espectador começaria uma série sabendo que, para o bem ou para o mal, haveria ali uma conclusão da trama ou, dependendo da situação, a renovação para uma última e menor temporada, encomendada só para amarrar as histórias soltas.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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