HISTÓRIA DA TV

Por que The Sopranos é considerada a série mais revolucionária da TV?

Drama mafioso ícone da cultura pop estreou há 25 anos
DIVULGAÇÃO/HBO
Cena da série The Sopranos
Cena da série The Sopranos

Todas essas grandes séries de TV que você acompanha, os dramas com qualidade de cinema e que beiram a arte do audiovisual, existem por causa de The Sopranos (HBO, HBO Max), sem dúvida. O drama da HBO, que completa 25 anos na quarta-feira (10), é a série mais revolucionária da TV. Agora, o que isso realmente significa? Para entender o porquê desse rótulo, vale uma breve viagem no tempo, uma investigação sobre o mundo do entretenimento antes e depois de The Sopranos.

Durante anos e anos, a TV americana era conservadora ao extremo em suas séries dramáticas (produções diferentonas tipo Twin Peaks eram exceções). Não se fugia do modelo que funcionava: trama didática e fácil de acompanhar, com personagens carismáticos liderando a história.

Pegando os anos 1970, 80 e 90 como exemplos, o foco era seguir o padrão, apostando quase nada em ousadia. Tipo, os protagonistas precisavam ter uma personalidade equilibrada, ser sempre heróis, passar a imagem de boa pessoa, justa e que faz o bem, por aí.

E o modelo de gravação imitava uma linha de produção. Eram seis dias de trabalho por semana, com expediente puxado, intenso. Ou seja, não havia qualquer espaço para pensar em episódios mais elaborados. Sequer cogitava-se fazer uma série de arte na TV. A estrutura dos capítulos de dramas policiais, por exemplo, era a mesma.

Nessa fórmula toda, tinha de se considerar os censores das redes americanas, que faziam exatamente isso, censura, mas sob um nome rebuscado de “padrões e práticas”, cartilha a ser seguida à risca. Essas pessoas controlavam tudo, com permissão para determinar o que determinado personagem poderia ou não fazer.

Michael Imperioli com Drea de Matteo em cena de The Sopranos
Michael Imperioli com Drea de Matteo em cena de The Sopranos

Como The Sopranos chegou na HBO?

David Chase, criador de The Sopranos, conhecia muito bem a máquina de fazer séries para a TV aberta dos Estados Unidos, pois até meados dos anos 1990 tinha trabalhados em muitas atrações, como roteirista, diretor, produtor e criador.

Ele sabia que a regra ali era não contar histórias viscerais. Mesmo assim, Chase bateu nas emissoras procurando alguma interessada em fazer The Sopranos, por mais que estivesse ciente dos filtros colocados no roteiro e produção. 

Durante encontro na rede CBS, líder de audiência na TV americana, um dos executivos da alta cúpula disse até ter gostado da premissa da série ali apresentada, dizendo não se importar com as artimanhas de Tony Soprano (James Gandolfini), o protagonista, nem com os roubos e assassinatos. A preocupação era ter um protagonista depressivo, que bebe e tem sessões de terapia com uma psiquiatra.

Sem sucesso com as emissoras, Chase encontrou um oásis na TV paga. A HBO existia há um tempo, mas foi em 1997 que lançou seu primeiro drama original, OZ, atração prisional pesada que chocou Hollywood. O showrunner foi muito bem recebido no canal premium, que não tinha censura nem patrocinadores para agradar, pois não exibia comerciais. 

A HBO foi o lugar perfeito para The Sopranos por um detalhe que Chase sempre chama a atenção quando fala sobre a razão do sucesso do drama mafioso. Ele e sua equipe tinham total liberdade criativa, algo raro na época. Os executivos do canal deixavam os roteiristas e produtores fazerem os respectivos trabalhos como quisessem, sem interferir. 

The Sopranos estreou na HBO em 10 de janeiro de 1999. Foi encerrada em junho de 2007, depois de seis temporadas e 86 episódios. Foram 112 indicações ao Emmy e 21 vitórias (incluindo duas estatuetas de melhor drama).

Jon Hamm em cena da série Mad Men
Jon Hamm em cena da série Mad Men

Porteira aberta

Com o sucesso de público e crítica, The Sopranos abriu a porteira para surgirem mais e mais séries do tipo, com um anti-herói de protagonista, tipo Mad Men. Hollywood viu que era possível fazer sucesso, conquistando bons números de audiência e troféus em premiações, com atrações ousadas, progressistas e politicamente incorretas.

Em um mundo sem Sopranos, jamais The Shield existiria, série policial cujo protagonista, um detetive corrupto de Los Angeles, vivido por Michael Chiklis, mata a sangue frio outro policial bem no primeiro episódio. O que dizer, então, de uma narrativa com um professor de química que vira traficante de drogas (Breaking Bad)?

Pós-Sopranos, dezenas e dezenas de séries sombrias nasceram, aquelas com personagens complexos e enigmáticos, gerando o auge da TV prestigiada, atraindo montanhas de investimento e profissionais do cinema, como os atores mais conhecidos do mundo. A TV nunca mais foi a mesma.


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