
Chamando a atenção pela sua performance na terceira temporada de The White Lotus, Patrick Schwarzenegger decidiu virar alvo de um assunto que incomoda artistas privilegiados de Hollywood. Ele rejeitou o rótulo de nepo baby, termo usado para classificar aquela pessoa bem-nascida, filho ou filha de pais famosos oriundos de qualquer ramo, da música ao cinema. Dessa forma, naturalmente, esse ser larga na frente de tantos outros na corrida em busca da fama e do sucesso profissional.
Como está claro pelo sobrenome, Patrick é filho de Arnold Schwarzenegger, lenda absoluta do cinema. O jovem de 31 anos, porém, rapidamente nega que chegou onde chegou devido ao seu sobrenome. “Eu sei que há pessoas que dirão que eu só consegui esse papel [em The White Lotus] por causa de quem meu pai é”, disse o ator em entrevista ao jornal The Sunday Times.
“Quem me critica não vê que fiz dez anos de aulas de atuação, trabalhei em meus personagens durante horas a fio… E não mencionam as centenas de audições rejeitadas em que estive”, continuou. “Claro, é frustrante, e você pode ficar encurralado. Você pensa, naquele momento, ‘Eu não queria ter esse sobrenome’. Mas esse é [apenas] um momento passageiro.”
Patrick ativa a linha defensiva adotada por atores filhos de famosos que não enxergam o privilégio que têm. De O’Shea Jackson Jr. (ator filho do rapper Ice Cube) a Jamie Lee Curtis (filha de dois atores famosos), muitos nepo babies se revoltam quando os chamam assim, interpretando que tal rótulo é um carimbo de uma suposta falta de talento e que só chegaram sob os holofotes única e exclusivamente pelo sobrenome que têm. Não é bem assim.
Há algo inegável nessa história. Quem nasce em berço de ouro tem muitas vantagens em comparação ao ator/atriz que vem de baixo, quem precisa se sustentar trabalhando em subempregos até conseguir realizar o sonho de ganhar a vida atuando. Sobrenomes de peso abrem portas e criam conexões, coisas que um artista desfavorecido precisa lutar muito para obter.
É muito mais fácil ter horas livres para participar de inúmeras audições e se preparar para os personagens, como pontuou Patrick, quando a sua família vale milhões e milhões de dólares e você não precisa se preocupar em pagar boletos.
Posturas defensivas como as de Patrick são contraproducentes. Ainda mais considerando visões de nepo babies que assumem o rótulo de forma madura, sabendo que reconhecer o privilégio não apaga necessariamente o seu talento.
Quem deu o melhor exemplo disso foi Allison Williams, atriz de Girls e muitas outras séries renomadas. Ela é filha de um dos maiores âncoras da história do telejornalismo americano (Brian Williams) e de uma produtora com larga experiência na TV. Allison reconheceu sua origem altamente privilegiada sem hesitar, durante entrevista ao site Wired:
“Não há conversa sobre minha carreira sem falar sobre as maneiras pelas quais tive sorte”, comentou. “Se você confia em sua própria habilidade, acho que se torna muito simples reconhecer [isso].”
Em outra entrevista, a atriz complementou essa visão: “Tudo o que as pessoas estão procurando é um reconhecimento de que não é um campo de jogo nivelado. É [uma corrida] simplesmente injusta, ponto final, fim da história. E ninguém está realmente trabalhando duro para tornar essa dinâmica justa. É ridículo eu não admitir que meu início como atriz não é o mesmo de alguém com zero conexões, [simplesmente] não é a mesma coisa”. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br