A comédia Bookie, série da HBO Max que estreia na quinta-feira (30), é um marco para a história da TV. Tem-se ali o reencontro do showrunner Chuck Lorre com o ator Charlie Sheen após uma rixa pesada que durou 12 anos. A paz selada entre ambos serve de lição a todos, que de uma forma ou de outra enfrentam ruptura em uma amizade outrora frutífera e agradável. Até chegar a hora de esquecer o passado, apagar as diferenças e reatar o que é bom.
Juntos, Chuck Lorre e Charlie Sheen lideraram uma das maiores sitcoms de todos os tempos: Two and a Half Men. A série foi a número 1 no ibope americano, era sucesso no mundo inteiro e fez de Sheen o ator mais bem pago da TV dos Estados Unidos, ganhando US$ 1,8 milhão por episódio durante a temporada 2010-2011.
Mas daí veio o desentendimento entre eles. A briga foi pública, com trocas de acusações tenebrosas; ambos dispararam impropérios, porém Sheen foi o mais agressivo. O ator chegou a chamar Lorre de “estúpido” e “pequeno verme”, além de proferir xingamentos antissemitas impublicáveis. A demissão do Sheen foi inevitável. E Two and a Half Men continuou sem ele, com Ashton Kutcher o substituindo.
Foram 12 anos de silêncio absoluto. Até que Chuck Lorre, durante o desenvolvimento da comédia Bookie, teve uma ideia. A série da HBO Max acompanha um veterano agenciador de apostas que luta para sobreviver à iminente legalização das apostas esportivas. Lorre surpreendeu sua equipe ao sugerir que Charlie Sheen deveria interpretar uma das celebridades que deve dinheiro ao tal agenciador.
A cura entre Chuck Lorre e Charlie Sheen
Durante a tarefa de promover Bookie, Chuck Lorre e Charlie Sheen abriram o coração e acabaram dando uma lição sobre reatar uma amizade tão intensa que se perdeu com o tempo, depois de um rompimento belicoso. Alguém teria de tomar a iniciativa para selar a paz. Chuck Lorre deu a partida.
Como acontece muito em situações parecidas em nosso cotidiano, ambos os lados estavam prontos para superar os tempos sombrios. Lorre ligou para os representantes de Sheen… E Sheen aguardava esse contato, mesmo no inconsciente.
“Eu estava nervoso, mas assim que começamos a conversar, lembramos que já fomos bons amigos”, disse Lorre, em entrevista para o site Variety. “E aquela amizade de repente parecia estar lá novamente. Não quero ser muito piegas sobre isso, mas foi uma conversa que sarou feridas.”
Sheen, por sua vez, foi bastante sincero em papo com o site New York Post. Ele admitiu que estava ansioso na véspera da primeira conversa com Lorre em 12 anos. “A ansiedade que eu tive antes de nosso primeiro contato foi como um tsunami. Chuck pegou o telefone e não poderia ter sido mais adorável comigo. Foi tão curativo… E bastante surreal.”
“Foi como um sonho muito divertido que você está vivenciando”, continuou. “Foi tão refrescante e libertador. Eu senti como se tivesse tirado um peso enorme de minhas costas. Para mim, era difícil tomar a iniciativa de um contato [com Chuck] por causa do que fiz anos atrás.”
O ator concluiu: “Eu disse para Chuck: ‘Olha, todo dia eu penso nisso, tenho momentos de arrependimento por tudo o que aconteceu’. E ele me disse: ‘É hora de deixar isso para trás’.”
Em Bookie, a passagem de Charlie Sheen é especial. Ele vive uma versão satirizada de si mesmo que deve 75 mil dólares por causa de apostas. Sheen topou ri das próprias trapalhadas que teve na vida, pois de fato se envolveu perigosamente com apostas esportivas no auge de sua carreira. Lorre lembrou disso e inseriu na trama, com o aval do amigo.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br