
A morte de Silvio Santos, ocorrida no último sábado (17), comoveu todo o Brasil. Na busca por mais informações sobre a história de vida do maior comunicador da história do país, cresceu o interesse pela série O Rei da TV, lançada em 2022 e que está disponível no Disney+. Foi a primeira obra nacional ficcional sobre Senor Abravanel, nome civil da lenda.
Composta de duas temporadas (16 episódios), a atração ficou marcada pela representação caricata do apresentador e pelo seu caráter não oficial, o que gerou diversas críticas negativas.
Originalmente, a série O Rei da TV estreou no streaming Star+, que hoje é um puxadinho do Disney+. Na época, a plataforma fez uma campanha bastante agressiva para promover o drama nacional, criado por Marcus Baldini, André Barcinski e Ricardo Grynszpan.
A promessa era narrar, na primeira temporada, a trajetória de Silvio Santos durante três fases da vida, da década de 1940 até o final dos anos 1980. Na segunda leva, o foco foi no Silvio mais maduro, consolidado como um empresário de sucesso e uma grande figura midiática, acompanhando desde sua candidatura frustrada à Presidência do Brasil ao dia em que foi sequestrado e feito refém em sua própria casa.
O principal ponto fraco da série está na montagem do protagonista. Seguindo a tradição do entretenimento brasileiro, ficou nítida a dificuldade de caracterizar um ator com a fisionomia mais próxima possível de uma pessoa real. Nenhum dos atores na pele de Silvio Santos nas três fases da trama se parece com ele. Isso diminui, e muito, o valor da produção, ganhando um aspecto caricato e cartunista, na base da imitação e não da interpretação artística.
Já a questão de ser não oficial, ou seja, não ter aprovação da família Abravanel nem do próprio Silvio, pode ser vista como boa por alguns. Isso porque O Rei da TV expôs uma faceta pouco conhecida do apresentador, soltando até uns podres. Hollywood é cheia de séries dentro desse espectro, são geralmente as mais atraentes por não serem chapas-brancas. Se tivesse o carimbo da família, situações muito comprometedoras seriam descartadas.

A essência de O Rei da TV
A problemática da caracterização de Silvio Santos em O Rei da TV tem outro aspecto ruim. Não apenas os três atores escalados para interpretar o protagonista da série (Guilherme Reis, Mariano Mattos Martins e Rubens Chachá) não se parecem em nada com o Silvio Santos. Talvez pior: têm poucos traços semelhantes entre si.
Isso é frustrante por se tratar do personagem principal (e pessoa tão icônica na vida real). Fazer isso com o protagonista desvalorizou a série, oferecendo ao espectador uma experiência de imersão abaixo da média.
No outro lado da balança, que destaca o lado não oficial da obra, O Rei da TV desnudou Silvio, tanto no pessoal quanto no profissional. Foi uma tática boa, pois deixou a série com uma pegada mais madura, ousada e sem amarras.
Como não contou com a colaboração da família Abravanel, a série usou como base entrevistas concedidas pelo comunicador ao longo dos anos, trabalho de pesquisa do grupo de criadores e depoimentos de testemunhas que de alguma forma tiveram contato com o empresário.
Tem a história polêmica com a primeira mulher, a Cidinha. Um “suposto” golpe envolvendo o lucrativo Baú da Felicidade. Artimanhas para passar a perna em um camelô rival. Uma certa inveja e ódio contra o Gugu, nome importante do SBT. E muito mais. É quase uma “versão proibida” de Silvio Santos.
Logo após o lançamento de O Rei da TV, o clã Abravanel entrou em cena na praça pública e criticou a série. Daniela Beyruti, filha número três de Silvio Santos e atual vice-presidente do SBT, detonou: “Assisti a um episódio e não vou assistir mais. Me perguntei: Quem produziu isso? Com que intuito? História mal contada, tantas inverdades e personagem arrogante. Um Silvio Santos que ninguém conhece nem conheceu. Lamentável.”
Já Silvia Abravanel, a filha número dois, disse: “Tentei assistir e me deu até medo, dos personagens ao enredo. Uma lástima. Realmente, a impressão que dá é que foi de maldade, principalmente com a história do nosso pai e da nossa família. Nota menos 100.”
Pessoas que conviveram durante décadas com Silvio Santos usaram as redes sociais para também ecoar a visão dos parentes. A apresentadora Christina Rocha se posicionou: “Essa série exagerou em elementos ficcionais que não condizem com o Silvio Santos que conheço há mais de 30 anos”.
Já o cabeleireiro Robson Jassa deu um alerta que fica como um resumo disso tudo: “Quem fez [a série] nunca encontrou com o Silvio. É triste deixar para novas gerações uma versão de um Silvio que não existiu”.

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br