Com uma reconstituição de época impecável e apresentando uma história que todo mundo precisa conhecer, a série italiana As Leis de Lidia Poët é imperdível (drama policial e jurídico). Retornando com a segunda temporada na quarta-feira (30), a atração é baseada em uma história real e narra a jornada de Lidia Poët (Matilda De Angelis), a primeira advogada da Itália. Ela luta por direitos iguais entre mulheres e homens, isso no final do século 19, quando as batalhas contra o machismo e patriarcado eram muito mais árduas em comparação à contemporaneidade.
A narrativa tem início em 1883. Nesse momento, Lidia Poët era uma advogada formada e aprovada na Ordem dos Advogados do país da bota. Ela estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Turim, pegando o diploma em junho de 1881. Nos dois anos seguintes, ela trabalhou como assistente em tribunais e auxiliou um escritório tratando de assuntos forenses.
Quando foi admitida pela Ordem, em agosto de 1883, a advogada recebeu aprovação de 45 (de 50) votantes. Ou seja, aceita por ampla maioria. Contudo, quando passou a trabalhar de fato como advogada, transitando em espaços completamente dominados por homens, ela foi mal vista, sofreu todo tipo de preconceito, ouviu comentários misóginos… até culminar na posição direta do Advogado-Geral da Itália, então uma monarquia, contra Lidia Poët.
Conforme a produção mostra, ela foi rejeitada pelo fato de ser mulher. Questões fora do escopo, como vestimenta e comportamento feminino, fizeram parte da argumentação que retirou o direito dela de exercer a advocacia, martelo batido em novembro de 1883, três meses após a jovem ganhar a carteirinha da Ordem.
Sem dinheiro, mas cheia de orgulho, Lidia passou a trabalhar no escritório de advocacia do condescendente irmão Enrico (Pierluigi Pasino). Em paralelo, elaborava um recurso para tentar anular a decisão judicial.
Dotada de uma visão à frente de seu tempo, ela buscava a verdade encoberta pelas aparências e preconceitos para ajudar pessoas suspeitas de crimes. Lidia se dedicou a ajudar quem foi falsamente acusado de algum delito, pessoa sentenciada dentro de um regime para lá de rígido, inserida dentro de um sistema jurídico absolutamente patriarcal.
De jovem suspeito de matar uma bailarina a anarquista acusada de assassinato, a jurista não cessou em ajudar os mais necessitados e excluídos da sociedade, como mostram os episódios da série da Netflix.
Lidia Poet e a luta por reconhecimento
A perseguição contra a advogada foi o estopim de um movimento na Itália para quebrar barreiras que impediam mulheres de trabalharem em lugares públicos. A visão do regime governamental ecoava nas ruas e nos lares. O entendimento geral era que a mulher tinha um lugar na sociedade sim, mas dentro de casa cuidando de afazeres domésticos.
A opinião pública, mais progressista, apoiava a inclusão da mulher na força de trabalho italiana, exercendo qualquer profissão. Por isso a a trama traz a visão da imprensa com um personagem jornalista, o Jacopo, vivido por Eduardo Scarpetta (My Brilliant Friend).
Nunca deixando de lado a advocacia, Lidia foi uma ativista em várias frentes. Ela teve um papel fundamental na Itália, agora já no começo do século 20, trabalhando em organizações voltadas à luta pelo direito penitenciário; foi reconhecida internacionalmente por isso.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), atuou como enfermeira junto à Cruz Vermelha. E somente em 1920, dois anos após a Grande Guerra, Lidia Poët foi readmitida na Ordem dos Advogados, aos 65 anos de idade.
Nessa fase da vida, ela não optou pelo descanso. O ativismo seguia firme e forte. Em 1922, se tornou presidente da comissão que brigava pelo direito da mulher ao voto. Apenas em 1946, após um referendo, que as mulheres italianas tiveram permissão para votar. Lidia viu isso se concretizar; ela morreu, aos 93 anos, em 2 de fevereiro de 1949. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
Siga nas redes
Fale conosco
Compartilhe sugestões de pauta, faça críticas e elogios, aponte erros… Enfim, sinta-se à vontade e fale diretamente com a redação do Diário de Séries. Mande um e-mail para:
Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência possível para o usuário. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar a nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Você pode ajustar todas as configurações de cookies navegando pelas guias no lado esquerdo.
Cookies estritamente necessários
Cookies estritamente necessários devem estar sempre ativados para que possamos salvar suas preferências para configurações de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará ativar ou desativar os cookies novamente.
Cookies de terceiros
Este site usa ferramentas de terceiros, como Google Analytics, Google Adsense, entre outros, para coletar informações anônimas, como o número de visitantes do site e as páginas mais populares.
Manter este cookie ativado nos ajuda a melhorar nosso site.
Ative primeiro os Cookies estritamente necessários para que possamos salvar suas preferências!