Sim, é real a possibilidade de uma nova greve em Hollywood, desta vez decretada pelo Iatse, o sindicato dos operários que trabalham atrás das câmeras. Até agora, as negociações com a AMPTP, entidade patronal que representa os nove maiores estúdios hollywoodianos, estão indo devagar e longe de um acordo. O atual contrato, firmado há três anos, termina em 31 de julho.
Na base, as demandas do Iatse (Aliança Internacional de Funcionários de Palcos Teatrais), representando cerca de 70 mil profissionais, são aquelas tradicionais entre funcionários e patrões, como aumento salarial e melhorias no ambiente de trabalho. Mas, neste ano, há fatores extras que pesam na hora das negociações, como as interrupções que Hollywood sofreu recentemente, por causa da pandemia de Covid-19 e da greve dupla, de atores e roteiristas, do ano passado.
Muitos operários (figurinistas, maquiadores, carpinteiros, contrarregras, operadores de câmera, etc.) estão desempregados. Quem conseguiu algum emprego durou pouco tempo. Nos primeiros cinco meses deste ano, o experiente operador de câmera Keith Dunkerley trabalhou apenas 18 dias, conforme disse em entrevista ao jornal Los Angeles Times.
Assim, a briga pelo aumento salarial gira em um ganho percentual maior do que o dos contratos anteriores. Os operários querem também uma segurança mais firme de seus empregos, evitando descarte a qualquer sinal de crise. Fora esses dois pontos-chave, tem ainda questões sobre descanso, regulação de inteligência artificial, licenças e planos de saúde.
Em conversa com o site Deadline, um executivo do lado dos patrões informou que, hoje, existe “um golfo de distância” entre as duas partes, sinal de que um acordo realmente parece algo distante. Fato é que carregar esse impasse até a data limite não é bom para ninguém. Quanto mais cedo for definido um novo contrato, melhor.
A questão é que a vantagem nas negociações está com os patrões. Se as demandas do sindicato forem exageradas, na visão da AMPTP, e não existir possibilidade de chegar a um meio-termo, Hollywood vai cruzar os braços novamente. Streamings e produtoras vão sofrer, mas bem menos do que os operários, que ainda se recuperam do baque das paralisações recentes.
Os dirigentes do Iatse estão sob pressão porque o acordo que vence mês que vem foi aprovado pelos sindicalistas por uma margem mínima. Quer dizer, muitos não gostaram do que foi acertado, contudo, aprovaram o contrato para não ficarem desempregados.
Agora, esses mesmos dirigentes precisam fazer um trabalho mais eficiente para os operários não saírem como os grandes perdedores desse novo acordo.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br