Ambientada na França durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a minissérie Toda Luz que Não Podemos Ver, da Netflix, conta uma história comovente em tempos de destruição e desesperança. Por mais que tenha elementos bastante reais daquele período tenebroso, a trama não é baseada em fatos. A fonte é o livro homônimo, escrito por Anthony Doerr, publicado no Brasil pela editora Intrínseca.
Contudo, Doerr se inspirou em histórias reais para montar a sua narrativa. Em entrevista ao site Huffpost, em 2015, falando sobre o livro, o escritor contou que o alicerce do enredo veio de viagens que fez a Saint-Malo, cidade francesa à beira-mar usada como pano de fundo de boa parte da trama. Lá ocorreu uma batalha real na Segunda Guerra, entre agosto e setembro de 1944.
O autor partiu do princípio de narrar uma história com mais nuances do que as versões comumente aceitas, principalmente aquelas descritas em livros didáticos. Neles, a resistência francesa é pintada como a grande salvadora da pátria, tipo MacGyver, “transformando clipes de papel em metralhadora”, como Doerr caracterizou. E, por sua vez, os soldados alemães são os vilões enviados pelo Diabo.
“Por que eu não conto uma história de um jovem alemão sugado pela juventude hitlerista?”, questionou o escritor. “Talvez decisões ruins dele resultem em desastre, mas pode ser alguém que transmita empatia. E por que não colocar uma jovem cega que, de várias maneiras, é mais capaz do que adultos que estão ao seu redor?”
O papel de Werner (Louis Hofmann) em Toda Luz que Não Podemos Ver, jovem recrutado pelo regime de Hitler para rastrear transmissões ilegais, veio de uma figura verdadeira. Mas só serviu de leve inspiração, como Doerr explicou em entrevista ao site da NPR:
“Certo dia, vi uma fotografia, na revista Life, de um garoto que tinha 15 anos quando os Estados Unidos tomou uma cidade alemã”, recordou. “Esse menino perdeu o pai, não tinha mãe e se juntou à Força Aérea para se sustentar.”
“A foto foi a primeira vez, em toda a minha vida adulta, que eu tive empatia por um cidadão alemão”, continuou. “Porque segundo as histórias que eu li sobre a guerra durante minha juventude, os alemães sempre foram do mal. Daí eu pensei: ‘Vou tentar entender como seria a vida de um garoto como esse.’.”
Doerr pegou tudo isso e misturou com fatos da Segunda Guerra em Toda Luz que Não Podemos Ver, como os conflitos em Saint-Malo, explorando ações da real resistência francesa e o avanço das forças alemães até Paris, a capital da França.
A parte da ficção é liderada por Marie-Laure (Aria Mia Loberti, na versão adulta) e seu pai, Daniel LeBlanc (Mark Ruffalo), que fogem de Paris com um lendário diamante para evitar que ele caia nas mãos dos nazistas.
Perseguidos por um oficial da Gestapo que quer se apossar da pedra para benefício próprio, a dupla logo encontra refúgio em Saint-Malo. Lá, eles vão morar com um tio recluso que faz transmissões de rádio clandestinas para a resistência.
Siga o Diário de Séries no WhatsApp
Acompanhe o Diário de Séries no Google Notícias
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br