Corrigindo um erro de Game of Thrones, a HBO mantém o escritor George R.R. Martin de pertinho durante o desenvolvimento de A Casa do Dragão, ele que é o autor dos livros que inspiraram ambas as séries. Pensando como criador e não pelo ponto de vista de executivo de empresa produtora de conteúdo, Martin estabeleceu que o ideal é A Casa do Dragão ir até a quarta temporada. Basta a turma engravatada do canal premium obedecer essa sugestão que tudo ficará bem.
Sempre muito opinativo, sincero e prático, George R.R. Martin fez esse posicionamento em uma postagem no site próprio, chamado jocosamente de Not a Blog (Não É um Blog). Em texto publicado na semana passada está traçado o planejamento ideal de A Casa do Dragão.
“Vai precisar de quatro temporadas completas, de dez episódios cada, para se fazer justiça à Dança dos Dragões, do começo ao final”, escreveu, contextualizando o ritmo da série até agora e comparando com a obra Fogo & Sangue, a base do filhote de Game of Thrones. No caso, Dança dos Dragões é o nome dado à guerra civil que é o núcleo da narrativa, prestes a explodir na série.
A HBO precisa, dessa vez, seguir o caminho traçado por George R.R. Martin e terminar nos termos do livro usado como inspiração. Caso a atração continue bem ou cresça ainda mais, pode surgir aquela vontade de ir além dessas quatro temporadas tidas como ideais, trajeto que iria apresentar histórias sem base nas obras do autor, podendo perder a identidade.
Game of Thrones como exemplo
Foi o caso de Game of Thrones. A série abusou da liberdade criativa, indo além do material fundamental de Martin, avançando tramas que o autor ainda não escreveu em livros. O drama da HBO gastou as referências, basicamente, até a quinta temporada. Depois disso, foi imaginação dos roteiristas e produtores da atração, não a visão de Martin.
O desvio começou na quinta temporada. A coleção As Canções de Gelo e Fogo, inspiração de Game of Thrones, tem cinco livros. O quarto e o quinto volume, O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões, foram aplicados na quinta leva de episódios, intercalando histórias e distorcendo assim a sequência natural de eventos, de acordo com as respectivas obras literárias.
Depois disso, em três temporadas, a espinha dorsal foi improvisada pelos roteiristas, sem o dedo de Martin. Só histórias paralelas remetiam à coleção. Coincidência ou não, é da sexta temporada em diante que os críticos mais ferozes detonam Game of Thrones, apontando perda de qualidade, culminando no final tido como infame.
Ou seja, esse mesmo erro não deve ser repetido com A Casa do Dragão. A HBO está dessa vez colada com George R.R. Martin e deve obedecê-lo. Se ele falou quatro temporadas, que assim seja.
É preciso fazer um registro importante, contudo. Game of Thrones tem quatro estatuetas de melhor drama no Emmy, três deles foram ganhas pelas temporadas seis, sete e oito (a última); a outra veio pela quinta temporada. Antes disso, a série perdeu para Breaking Bad (duas vezes), Homeland e Mad Men.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br