O mundo de Hollywood ainda processa a demissão de Jennifer Salke do cargo de chefe do Amazon MGM Studios, oficializada na última quinta-feira (27). Apesar de ter emplacado sucessos mundiais, como Reacher e The Boys, a gestão da executiva ficou marcada pelos investimentos astronômicos em séries como Os Anéis de Poder (sua principal bandeira) e Citadel, cujos números de audiência e engajamento em nada corresponderam às expectativas.
A análise sobre Os Anéis de Poder tem de ser feita pelo que era esperado, não necessariamente pelo que a produção alcançou. Isso porque, se colocados na mesa somente os dados frios do ibope, seja os da Nielsen ou do próprio Prime Video, até que a série não foi mal, sendo uma das maiores audiências de todos os tempos do streaming da Amazon.
Porém, o prelúdio de O Senhor dos Anéis não surgiu só para isso. A ideia era transformar essa atração numa nova Game of Thrones (2011-2019), combinando vitórias em grandes premiações com uma audiência espetacular ao redor do planeta, fazendo os espectadores comentarem detalhes da trama fantasiosa como se fossem lances de um jogo de futebol.
Para tanto, a Amazon abriu o cofre e fez a série mais cara da história da TV. Apenas para ter o direito de adaptação televisiva do universo O Senhor dos Anéis, a plataforma do bilionário Jeff Bezos gastou US$ 250 milhões. Fora isso, foi investido quase meio bilhão de dólares (US$ 465 milhões) para fazer somente a primeira temporada.
Nem um dos homens mais ricos do mundo está disposto a perder essa fortuna sem algum retorno substancial.
Após a segunda temporada, encerrada em outubro do ano passado, Os Anéis de Poder atingiu o pior status possível: indiferente.
Enquanto o Prime Video lançava esses novos episódios, a concorrência dominava a atenção com outras séries mais empolgantes.
Na Netflix, a minissérie O Casal Perfeito e a segunda temporada de Monstros (caso Irmãos Menendez) geraram muito mais engajamento do que o prelúdio de O Senhor dos Anéis; sem contar a comédia Emily em Paris. Pinguim também foi muito bem em seu início, na HBO, o mesmo valeu para Agatha Desde Sempre (Disney+); todas essas com um orçamento bem menor do que a trama da Terra Média.
Em fevereiro, o Prime Video anunciou a renovação de Os Anéis de Poder para a terceira temporada. O anúncio chegou com bastante atraso, quatro meses após o final da leva anterior. E foi dado um sinal de que o fim da série está próximo, como se os executivos do streaming estivessem se preparando para se livrar da atração.
Pela sinopse oficial da terceira temporada e considerando o contexto da narrativa, os episódios inéditos levam o drama fantasioso para a reta final, aproximando-se bastante dos eventos narrados na trilogia de filme O Senhor dos Anéis.
Pontos positivos da gestão de Salke
Jennifer Salke é uma das executivas mais experientes da TV americana. Ela era presidente de entretenimento da NBC, emissora que rivaliza com a rede CBS pelo posto de líder de audiência nos Estados Unidos, antes de assumir o posto de chefe do Amazon MGM Studios, em 2018.
Uma “promessa de campanha”, vamos assim dizer, ela cumpriu. Assim que assumiu esse cargo na Amazon, Jennifer se dedicou a atrair o público adulto jovem, com séries e filmes voltados a essa faixa etária; o nicho então era dominado pela Netflix. Ela conseguiu isso, pois entre os maiores feitos de sua gestão estão as séries O Verão que Mudou Minha Vida e Maxton Hall, hits incontestes.
Além disso, foram emplacados dramas que conquistaram a dobradinha sucesso de crítica-sucesso de público, como Jack Ryan, Fallout, Cross (além das já citadas Reacher e The Boys).
Ela obteve feitos importantes na divisão de comédia, incluindo um histórico. A série A Maravilhosa Sra. Maisel foi a primeira série de um streaming a ganhar o Emmy de melhor comédia (2018). No ano seguinte, foi a vez de Fleabag abocanhar a estatueta dessa categoria. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br