Drama político refinado da Netflix, A Diplomata retorna com a segunda temporada na quinta-feira (31), série que Keri Russell carrega nas costas. A atriz californiana de 48 anos consolida um feito raro em Hollywood, o de ser estrela de três grandes dramas em cada uma das últimas três décadas. Tudo começou em Felicity, passando por The Americans até chegar na série mais inteligente que a gigante do streaming já lançou.
Antes de Felicity, Keri teve um ciclo de atuações diversas como adolescente, seja em sitcom cancelada após alguns episódios exibidos ou participações em atrações conhecidas, tipo Um Amor de Família e Sétimo Céu.
Quando J.J. Abrams e Matt Reeves criaram a série Felicity (1998-2002), não imaginaram uma atriz com os traços de Keri na pele da personagem principal, a caloura universitária Felicity Porter, que em uma atitude impulsiva desiste de cursar medicina, algo planejado durante anos, para seguir seu crush de escola em outra parte dos EUA. Ela acaba descobrindo outros talentos nessa aventura radical.
Tanto o drama jovem adulto quanto a personagem Felicity têm lugares cativos na história da TV americana, isso devido à qualidade da trama e a performance de Keri Russell, que então aos 2o e poucos anos liderava uma série da TV aberta, provando ser um dos grandes talentos de sua geração.
Após o término da história, concluída nos próprios termos mostrando os quatro anos da jornada universitária de Felicity, a atriz resolveu dar um tempo para cuidar da família, bem quando poderia seguir brilhando sob os holofotes de Hollywood. Priorizando a vida pessoal, ela fazia um bico aqui e ali até se deparar com um papel absolutamente irrecusável.
Foram dez anos nessa toada. Então, chegou ao seu colo o roteiro de The Americans (2013–2018; Disney+), sem dúvida uma das melhores séries deste século. Keri ficou encantada com a protagonista Elizabeth Jennings, uma espiã soviética sexy e brutal disfarçada de dona de casa americana.
The Americans rapidamente se colocou como um dos dramas mais elogiados durante o seu período de exibição. A trama de alto nível mostrou um lado diferente da Guerra Fria. Elizabeth formou dupla com o espião Philip Jennings (Rhys), ambos se disfarçando como um casal americano padrão, tendo filhos e tudo mais. A narrativa se passou entre 1981 e 1987. Foi uma investigação por outro prisma sobre as tensões entre EUA e União Soviética, entre o FBI e a KGB.
Por The Americans, Keri Russell cravou três indicações ao Emmy de melhor drama consecutivamente (2016, 17 e 18).
A mesma situação que se deu com Felicity foi repetida em A Diplomata. Debora Cahn, criadora do drama político, torceu o nariz quando Jinny Howe, midas da Netflix, a vice-presidente de séries roteirizadas da empresa, sugeriu Keri para o papel da embaixadora Katherine “Kate” Wyler. “Sério? A sofisticada e estonteante Elizabeth de The Americans?”, rebateu a showrunner, não se agradando da ideia logo de cara.
Mas ela acabou dando ouvidos a Jinny, a atitude mais correta. Jinny é um dos maiores nomes da alta cúpula da Netflix, aquela que de fato faz a roda girar. Ela tem intervenções decisivas em várias produções da plataforma do tudum, com produtores e roteiristas creditando a ela a razão do sucesso de suas criações, como se deu com o inesperado hit O Agente Noturno.
Debora topou conversar com Keri. Bastaram 38 segundos para a criadora de A Diplomata ver que a atriz era a ideal para interpretar Kate. O drama político é muito bom, com ótimo roteiro e produção. Entretanto, inquestionavelmente, a série atingiu um status elevado (top 10 em 87 países e 174 milhões de horas assistidas no primeiro mês de disponibilidade), por causa da grife Keri Russell.
E cinco anos depois, Keri voltou a ser indicada ao Emmy de melhor atriz de drama. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br