Milhares de atores participaram de manifestação que parou o centro de Nova York (EUA), nesta terça-feira (25), na região de Times Square. Foi o primeiro grande comício organizado pelo sindicato dos atores de Hollywood, o SAG, que contou com nomes consagrados da mais alta prateleira da atuação, tipo Bryan Cranston (Breaking Bad), Christine Baranski (The Good Fight), Jessica Chastain (George & Tammy), entre tantos outros.
O protesto faz parte do movimento grevista do SAG, iniciado no último dia 14, que paralisa Hollywood (ao lado dos roteiristas, de braços cruzados desde maio). A categoria exige melhores condições de trabalho acerca de várias questões para firmar um novo acordo com a AMPTP, entidade patronal representante dos nove maiores estúdios da indústria de entretenimento americana.
Bryan Cranston foi quem fez o discurso mais quente. Ele escolheu como alvo o CEO da Disney, Bob Iger, no olho do furacão após dizer que a classe artística não está sendo “realista” com as demandas colocadas na mesa de negociação com os patrões. O eterno Walter White disparou:
“Temos uma mensagem para o senhor Iger. Eu sei, senhor, que você vê as coisas através de uma lente diferente. Não esperamos que você entenda quem somos. Mas pedimos que você escute bem: não vamos deixar que nossos empregos sejam entregues a robôs. Não permitiremos que você tire nosso direito de trabalhar e ganhar uma vida decente. E por último, e mais importante, não permitiremos que tire nossa dignidade! Somos um sindicato e estamos unidos até o fim!”
O ator continuou: “Não estamos no mesmo modelo de negócios de dez anos atrás. Eles [AMPTP] sabem disso. Mas lutam contra nós com unhas e dentes para continuar com o mesmo sistema econômico, ultrapassado. Eles querem que voltemos no tempo. Não vamos deixar que isso aconteça.”
Muitas estrelas da TV estiveram presentes na manifestação: Steve Buscemi (Boardwalk Empire), Wendell Pierce (Jack Ryan), Christian Slater (Mr. Robot), Titus Burgess (Unbreakable Kimmy Schmidt), Michael Shannon (George & Tammy), BD Wong (Mulher-Hulk), Brendan Fraser (Condor), Matt Bomer (White Collar), Chloë Grace Moretz (Periféricos), Corey Stoll (Billions) e muito mais.
Motivo da greve dos atores de Hollywood
Bryan Cranston falou, indiretamente, sobre o uso da inteligência artificial no entretenimento, um dos pontos centrais das negociações entre o SAG e a AMPTP. Outra demanda na mesa trata dos residuais vindos dos streamings.
Duncan Crabtree-Ireland, diretor e negociador do SAG, alertou que o narrado no episódio A Joan É Péssima, de Black Mirror, está próximo da realidade. Nele, a computação gráfica, aliada com a inteligência artificial, criou a imagem da atriz Salma Hayek Pinault. Ela, porém, não tem controle sobre isso porque assinou um contrato autorizando a digitalização, termo colocado nas entrelinhas do documento.
O residual, espécie de direito de imagem, pago pelos streamings é irrisório. Muitos atores estão expondo nas redes sociais o quão pouco já receberam nesse modelo, evidenciando assim o absurdo da situação. Pois enquanto os artistas ganham valores ínfimos, os executivos dos conglomerados de mídia, vide Bob Iger, embolsam dezenas de milhões de dólares somente de salário anual (sem contar bônus e pacote de ações).
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