A greve dos roteiristas em Hollywood vai completar três meses de duração. Já a dos atores está na segunda semana. Até agora, absolutamente ninguém mexeu os pauzinhos para resolver os impasses que geraram as paralisações históricas, a primeira cruzada de braços de ambas as categorias, ao mesmo tempo, desde 1960. Acontece que um lado diz que é o outro que tem de tomar a atitude de chamar para a conversa. Quem vai ceder?
À imprensa, os representantes de ambos os sindicatos, roteiristas (WGA) e atores (SAG), afirmam que estão prontos e abertos para retomarem as negociações com a AMPTP, entidade patronal representante dos nove maiores estúdios hollywoodianos. Entretanto, ambas as organizações dizem que são os patrões que negam voltar à mesa em busca de um acordo.
Por outro lado, os dirigentes da AMPTP revelaram a dureza dos sindicatos em determinadas demandas. Pelo ponto de vista da entidade, é preciso haver flexibilidade nas exigências visando a definição de novos contratos trabalhistas.
Resultado disso? Um beco sem saída. Se um lado estiver esperando o outro tomar uma atitude… podemos aguardar sentados que não virá tão cedo a resolução dessas graves, cujas birras dos negociadores sobrepõe problemas urgentes. Alguém precisa largar o orgulho e mandar um zap ou chamada no Meet.
Integrante do comitê de negociação do WGA, Mike Schur (criador de Brooklyn Nine-Nine e The Good Place) tem uma posição irredutível, ao menos neste instante. Falou em entrevista à Variety: “Nós temos um plano [de retomar as negociações]. O plano é eles [AMPTP] ligarem para nós e chamar para uma conversa. Nós não vamos ligar para eles.”
Duncan Crabtree-Ireland, o negociador-chefe do SAG, está disposto a voltar a negociar com os patrões. Mas informou que os estúdios, desde o decreto da greve dos atores no último dia 13, não fizeram nenhum contato.
Cada sindicato tem pontos de entrave com a AMPTP, aqueles que um lado deseja que o outro ceda.
Os roteiristas exigem residual (direito autoral) robusto das séries populares nos streamings, as de maiores audiência, e um número mínimo de profissionais trabalhando no roteiro de qualquer atração, proporcional ao número de episódios. A AMPTP rejeitou as duas propostas.
Com os atores, existe a demanda de a categoria receber 2% da receita gerada pelas plataformas. Isso a entidade patronal não quer nem conversar, porque na real, quem pagaria a tal cota seriam os estúdios produtores de determinada série, não o streaming propriamente dito.
Enquanto piquetes fazem barulho na porta dos grandes estúdios e manifestantes tomam conta das ruas de Nova York, Atlanta e Los Angeles (polos da indústria de entretenimento americana), o silêncio impera na sala de negociação. Schur oferece uma saída dessa sinuca de bico:
“As empresas precisam admitir que uma solução tem de ser tomada. Quando uma série faz muito sucesso [nos streamings], você tem de dividir esse sucesso. Seja o plano do SAG ou o nosso [do WGA]… ou algum outro. Precisa ser criada uma estrutura melhor de pagamento para atores, roteiristas, diretores e todos que trabalham em uma produção de sucesso.”
Acompanhe o Diário de Séries no Google Notícias
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br