VISÃO SOCIAL

Diretor brasileiro sugeriu inclusão da Los Angeles dos sem-tetos em Sugar

Cidade californiana enfrenta problema severo que vai além da moradia e emprego
REPRODUÇÃO/APPLE TV+
Jon Beavers (sentado) com Colin Farrell na série Sugar
Jon Beavers (sentado) com Colin Farrell na série Sugar

O cineasta brasileiro Fernando Meirelles, diretor de todos os episódios da série Sugar, lançamento recente do Apple TV+, foi responsável por destacar um lado de Los Angeles meio que ocultado por Hollywood e, consequentemente, não tão conhecido do grande público: o grave problema dos sem-tetos, algo que vai além da questão de moradia e emprego.

Sugar tem como foco mostrar uma Los Angeles neo-noir, com o detetive particular John Sugar (Colin Farrell) cruzando a cidade enquanto investiga o desaparecimento da neta de um produtor hollywoodiano lendário. Originalmente, os moradores em situação de rua não faziam parte da trama. Mas Meirelles notou que não havia como ignorar esse retrato.

Em entrevista para a revista Veja, o cineasta explicou a adição inserida no roteiro original. O insight pipocou quando ele alugou, desavisado, um apartamento localizado em uma região com dezenas e dezenas de pessoas morando nas calçadas, em barracas. Aquilo causou um despertar. 

“Fiquei impressionado com uma área com uns vinte quarteirões com barracas e moradores em situação de rua”, disse. “Parecia um país muito pobre e não vizinho de Beverly Hills. Isso é parte importante da cidade”. Brotou, então, um elemento social decisivo para a narrativa.

Logo no primeiro episódio, Sugar tem um encontro amigável com um homem sem-teto, chamado de Carl (Jon Beavers). O investigador lhe oferece 200 dólares para olhar seu carro estacionado na rua e chega a incentivá-lo a procurar familiares e sair daquela situação. Ele até se dispõe a pagar uma viagem para Carl voltar à terra natal.

Contudo, Sugar descobre logo depois uma fatalidade: Carl usou o dinheiro para se drogar, e acabou morrendo de overdose. A série mostra, com exatidão, que o problema dos sem-tetos em Los Angeles, assim como em outras cidades ao redor do mundo, está na saúde mental e no consumo de entorpecentes. Logo, ceder um teto não é a única solução.

Para se ter uma ideia desse cenário em Los Angeles. Números oficiais apontam que o condado californiano tem 75 mil moradores em situação de rua; a cidade de São Paulo, por exemplo, tem 55 mil pessoas sem residência formal.

Em Los Angeles, a prefeita Karen Bass lançou um programa de US$ 250 milhões (mais de um bilhão de reais) para tirar essas pessoas da rua e colocá-las debaixo de um teto, em moradias populares. 

Especialistas que trabalham diretamente com os sem-tetos de forma independente, sem ajuda do governo, afirmam que casa/apartamento é solução para alguns, somente. Muitos precisam, de imediato, serem levados para centros que tratam dependentes químicos. Mesmo ganhando moradia, a pessoa tende a voltar para a rua caso seja viciada em drogas, como o fentanil, tipo de opioide que dizima os sem-tetos angelinos.

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