BALANÇO

De faxineira a professor: 2022 foi o ano da classe trabalhadora na TV

Atrações como Abbott Elementary exaltaram profissionais que vivem longe do glamour
DIVULGAÇÃO/ABC
Tyler James Williams vive um professor em Abbott Elementary
Tyler James Williams vive um professor em Abbott Elementary

A classe trabalhadora, aquela que paga boletos com o suor do trabalho extenuante, brilhou na TV em 2022. De jornalista sem dinheiro no bolso a faxineira, passando por serviços públicos praticados por professores e médicos, o mundo das séries mirou os holofotes em boas tramas sobre pessoas bem próximas da realidade do público médio, expondo perrengues, aventuras e pequenas vitórias comuns do cotidiano de quem bate cartão.

Uma atração que nitidamente se destaca dentro desse contexto é This Is Going to Hurt, comédia dramática britânica que foi disponibilizada pela HBO Max. Ela mostra a realidade de um hospital público no Reino Unido, rotina que se assemelha ao que o brasileiro vive ao precisar de atendimento no SUS. É um contraste enorme em relação às instalações de ponta dos dramas médicos da TV americana.

A história segue os passos de Adam Kay (Ben Whishaw), médico que trabalha na ala de obstetrícia e ginecologia de um hospital do SUS britânico. O telespectador vê um doutor praticamente morando em um carro pequeno caindo aos pedaços, tendo também que lidar com um ambiente de trabalho precário, com poucos recursos.

Nessa mesma linha está Abbott Elementary (Star+). A comédia premiada no Emmy deste ano explora a vida de professores de uma escola pública americana, premissa rara de ser vista. São encenados diferentes pontos de vista sobre como enxergar a profissão, de apenas fazer o serviço e voltar para casa a buscar uma forma de quebrar o sistema e aprimorar o trabalho; esta uma visão totalmente idealista.

Élodie Yung na série A Faxineira
Élodie Yung na série A Faxineira

Faxineira imigrante, ex-doutora 

A vida de uma faxineira é tema da série The Cleaning Lady, que no Brasil ganhou o justo nome de A Faxineira (HBO Max). As idas e vindas da personagem principal são inusitadas. Thony De La Rosa (Élodie Yung, a Elektra da série Demolidor) é uma médica cambojana nas Filipinas. Contudo, ela larga o país e o trabalho para ir aos Estados Unidos, procurando tratamento para o filho que sofre de uma doença rara.

Na América, Thony passa sufoco após o visto de estadia expirar. Precisando ganhar dinheiro, ela se une à irmã e passa a ser faxineira, fazendo todo tipo de tarefa. O curioso da série é que mostra sim a rotina dura de diaristas imigrantes nos EUA. Por outro lado, há um elemento quase fantástico porque a trama coloca a personagem como a faxineira oficial de uma organização criminosa, resultado de um evento quase trágico.

Já em Tokyo Vice, também na HBO Max, um jovem americano vai morar no Japão com um objetivo incomum: trabalhar no maior jornal do mundo. Ambientada na virada do século 20, a trama traça a trajetória de um repórter investigativo no começo de carreira, sem esconder as dificuldades vividas nessa fase: pouco dinheiro, má alimentação e saúde desregulada. É a desconstrução do glamour pregado sobre a vida independente.

Tida como uma das melhores séries do ano, O Urso (Star+) tem trabalhadores da cozinha de um restaurante no centro do enredo. O protagonista é um chef de casas renomadas e premiadas, mas larga esse status para assumir o estabelecimento gordurento e raiz deixado pelo irmão recém-falecido. E não tem segredo: é sujar as mãos e limpar o suor na testa para pagar (no sufoco) as contas. Esqueça o ar gourmetizado dos restaurantes com selo Michelin.

Com uma crítica cortante sobre o que é comunismo real versus aquele comentado em jantares permeados de gente metida a besta, a série italiana My Brilliant Friend (Amiga Genial, HBO Max) jogou na cara o que uma operária de chão de fábrica, em linha de produção de embutidos, vive na pele, convivendo com condições insalubres e ganhando salário de miséria. É o retrato que faz o militante caseiro cair na real.


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