Recheada de mistérios e teorias, Manifest chega ao fim com a última leva de episódios (dez) na sexta-feira (2), na Netflix. A trama sobrenatural apresentou uma mitologia profunda e intrigante, motivando o telespectador a procurar respostas e decifrar códigos. Jeff Rake, criador e showrunner da série, explica os enigmas da narrativa.
Safira de Ômega
Em entrevista para a própria Netflix, Rake falou sobre os maiores mistérios de Manifest. Um deles, sem dúvida, é a tal da Safira de Ômega, que simplesmente permite que uma pessoa, com a pedra em mãos, possa criar Chamados e manipular situações. Angelina (Holly Taylor), a vilã da vez, está com a pedra preciosa enxertada na própria pele.
“A princípio, não curti muito a ideia de criar algo sofre a Safira de Ômega, achava que o público iria ficar confuso com isso”, confessou o showrunner. “Então, quanto mais os roteiristas e eu conversávamos sobre isso, mais aprendíamos sobre como muito da mitologia antiga está ligada ao tangível, em objetos reais, seja safira ou outros metais preciosos. Isso em muitos dos grandes mitos.”
“Percebi que isso não era mais irreal do que muitos dos mitos das grandes religiões mundiais que bilhões de pessoas seguem”, contextualizou.
“Se há um bilhão de pessoas por aí que acreditam no mito de Noé, por que não pode haver um bilhão de pessoas assistindo TV que podem acreditar no mito da safira? Isso vai ser muito importante até o fim [da série].”
Chamados ou memórias?
Uma pergunta simples, sem resposta fácil: por que a caixa preta do voo 828 tem chamados dos passageiros armazenados nela? Alguns dos passageiros, agora, acreditam que os chamados não são premonições, mas sim memórias. “Tendo em vista tudo o que eles entendem até agora, esse é um entendimento viável”, considerou Rake.
“Nós gostamos da ideia de que a caixa preta seja um tipo de arquivo, a guardadora dos Chamados”, explicou.
Há aí a brecha para entender os Chamados de várias maneiras, deixando tudo aberto a interpretação. Isso, na visão do showrunner, deixa a trama ainda mais profunda.
“Foi escolha própria ou do divino?” ele pergunta. “Os Chamados estão contidos na caixa, histórias infinitas, oportunidades infinitas. Poderiam ter escolhido ir para a esquerda em vez da direita. Ter feito a coisa certa ao invés da errada.”
“Talvez o divino não tenha nada a ver com isso. Talvez o divino seja apenas o guardião dessas oportunidades. Mas há escolhas a fazer. Cada episódio do Manifest está apenas permitindo que tudo funcione e que haja uma segunda chance de tomar decisões diferentes. Tudo está ali naquela caixa preta. Isso é poderoso.”
A Data de Morte
2 de junho de 2024, essa é a Data de Morte dos passageiros do voo 828, que na verdade está sendo abordada como o fim do mundo. Os personagens vão conseguir resolver o quebra-cabeça para vencer esse dia das trevas?
Muitos passageiros se perguntam sobre o porquê de o destino da humanidade está nas mãos deles. “Por que não?”, provoca Rake. “O divino escolheu os passageiros como profetas porque representam a humanidade; é isso que os torna especiais. Na verdade, nada sobre eles por si só os tornam especiais.”
Ciência versus fé
Desde o principio, Manifest deixou clara a intenção de misturar a fé o ceticismo na trama, como ter um cético e descrente liderando a história, o matemático Ben (Josh Dallas). Existem as referências bíblicas diretamente ligadas aos voo, tipo a passagem do capítulo 8, versículo 28, do livro de Romanos, na Bíblia. Algum lado vai prevalecer no final?
“Não desejamos que a ciência ou a fé vença no final”, diz Rake. “Sempre sentimos que se trata de fé E ciência… Acho que já aconteceu o suficiente ao longo da história humana que apoia a noção de que Deus é um cientista. Sempre sentimos que as histórias que contamos são melhor dramatizadas se as coisas puderem ser explicadas cientificamente ou como milagres. Isso porque gostamos de acreditar que são ambos.”
O showrunner prevê uma certeza: vai ter gente que não irá gostar do final de Manifest. Para tanto, ele elabora uma ponderação, deixando um recado importante: “Nós tivemos de fazer muitas escolhas ao longo dos episódios. Algumas pessoas concordam, outras discordam. Nas redes sociais, tem quem se posicione mais agressivamente por entender que tal escolha não foi de seu agrado. A mim, basta esperar que as pessoas assistam à série e aceitem o que foi preparado”.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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