MONUMENTOS NA MIRA

Crítica: Codex 632 faz provocação ácida sobre colonizadores e origem do Brasil

Drama luso-brasileiro investiga: a descoberta de Pedro Álvares Cabral foi acidental?
REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY
Padrão dos Descobrimentos, em Portugal, pichado na série Codex 632
Padrão dos Descobrimentos, em Portugal, pichado na série Codex 632

Nova série internacional do Globoplay, coprodução Brasil-Portugal, Codex 632 é um envolvente drama de investigação sobre um assunto controverso: o descobrimento do Brasil. Afinal, a chegada de Pedro Álvares Cabral foi acidental ou ele já sabia da existência do território tupiniquim antes de 22 de abril de 1500?

Nessa pegada, a série discute com precisão temas como cultura do cancelamento, revisionismo, identidade nacional, preservação da história e derrubada/vandalismo de estátuas que homenageiam colonizadores.

Cinco personagens de Codex 632 são importantes nessa discussão. A começar com Nelson Moliarti (Alexandre Borges), integrante do conselho executivo de uma fundação chamada de Américo Vespúcio, homenagem ao notório navegador italiano.

Ele recruta o professor Tomás Noronha (Paulo Pires) para dar sequência a uma pesquisa acerca do descobrimento do Brasil que, apesar de ter informações aparentemente indubitáveis em livros didáticos, ainda causa divisão em muitos historiadores sobre o que realmente aconteceu.

Paulo Pires na série Codex 632
Paulo Pires na série Codex 632

Tomás passa a investigar a tese, que é mais espinhosa do que parece. Especialista em criptologia, ele faz isso enquanto dá aulas em uma universidade. Curiosamente, sua colega docente mais próxima, a professora Vitória (Ana Sofia Martins), lidera de modo secreto um movimento, formado por jovens universitários, que agressivamente age para derrubar mitos sobre os colonizadores portugueses, mirando as tais estátuas, como a do explorador Vasco da Gama, e o que elas representam.

Atos de pichação vistos na série, como no Padrão dos Descobrimentos, que exalta personagens da época das navegações e do começo da colonização portuguesa, emulam acontecimentos reais.

Em certo momento, Vitória trava uma conversa acalorada com o também professor Rodrigo (Miguel Nunes), cuja visão é oposta a dela. Ele diz: “Essa cultura do cancelamento é como negar espaço a figuras históricas só porque tiveram um comportamento que agora é censurável.”

Vitória devolve, apontando que o professor não enxerga que os alunos estão combatendo uma visão única da história, a de um lado só. Durante plenário sobre descolonização, um estudante súdito de Vitória, convicto, dispara o seguinte em discurso fervoroso:

“Nos acusam de querer reescrever a história. Mas não! A única coisa que nós queremos é que a história seja escrita, sim, sem esquecer quem perdeu, quem realmente foi humilhado. É óbvio que nós temos que respeitar os fatos. Óbvio! Mas não podemos glorificar os colonialistas, que sempre alimentaram e semearam, durante séculos, o escravagismo e o racismo. Essas estátuas, esses símbolos, são um insulto à nossa democracia e ao progresso de nossa sociedade. Portanto, enquanto isso existir, nunca existirá igualdade.”

O movimento de vandalismo que mira estátuas de colonizadores é destaque na imprensa e está presente em conversas corriqueiras, não apenas no âmbito universitário. Nessa arena, Tomás procura ter uma posição mais central entre a de Rodrigo e da amiga Vitória.

Em uma conversa, Tomás ouve de Vitória de onde vem a indignação contra o colonialismo e a força para fazer algo no combate a isso, além de dar aula e escrever artigos que ninguém lê. Tomás é da linha de que o passado deve ser estudado, não reescrito.

“Neste caso [da descolonização e estátuas], estudar é reescrever”, rebate a professora. “O que Portugal deu ao mundo além da globalização da escravatura?”. Vitória elenca que qualquer resultado positivo que os portugueses colonizadores porventura obtiveram foi na base da escravidão, exploração de matérias-primas, subjugação dos mais fracos…

Na próxima quinta-feira (26), entram no Globoplay os últimos três episódios de Codex 632. Até agora, com os três primeiros capítulos, a série luso-brasileira apresentou tópicos vitais sobre o que realmente significa o descobrimento do Brasil por Portugal, de sua origem às consequências vindouras. A expectativa é que a trama aprofunde isso e estimule ainda mais esse debate importante e bem-vindo.


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