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Crítica: cenário de greve faz And Just Like That ter temporada digna de Emmy

Segunda leva do revival de Sex and the City chega ao fim na quinta (24)
DIVULGAÇÃO/HBO MAX
Cynthia Nixon (à esq.) com Sarah Jessica Parker na 2ª temporada de And Just Like That
Cynthia Nixon (à esq.) com Sarah Jessica Parker na 2ª temporada de And Just Like That

Por mais que não seja um primor, a segunda temporada de And Just Like That, cujo último episódio chega na HBO Max na quinta-feira (24), foi boa o suficiente para ser digna de uma indicação ao Emmy de melhor comédia, em 2024. Tem de ser levado em consideração, entretanto, que a concorrência não é lá essas coisas (até agora). Tudo por causa das paralisações na indústria de entretenimento americana.

A greve dos roteiristas está prestes a completar quatro meses; a dos atores beira os 40 dias. O cenário atual, de Hollywood parada, se assemelha ao auge da pandemia de Covid-19, em 2020-2021, quando o volume de lançamento de séries caiu drasticamente e afetou a corrida ao Emmy. Menos produções na praça abriram brechas para comédias e dramas fora do radar das premiações que em condições normais não teriam chances nas principais categorias do Oscar da TV.

Lembrando que no Emmy de 2021, na disputa pela estatueta de melhor comédia, estavam Cobra Kai, Emily em Paris e Pen15. Todas têm suas qualidades e tudo mais, porém só entraram na corrida por falta de opções melhores. Como elas se beneficiaram do cenário pandêmico em Hollywood, And Just Like That… pode fazer igual na atual dupla greve.

And Just Like That, mais leve e evoluída

De acordo com o prometido por Michael Patrick King, criador e showrunner de And Just Like That…, a segunda temporada do revival de Sex and the City deixou o baixo astral de lado, clima predominante da primeira leva, e apostou em uma pegada mais light, divertida e sexual. E funcionou.

As jornadas do trio original formado por Carrie (Sarah Jessica Parker), Charlotte (Kristin Davis) e Miranda (Cynthia Nixon) foram recheadas de trapalhadas, gafes e muito bom humor, como uma atração de comédia tem de ser. Realmente, foi um refresco necessário em comparação à densidade da primeira temporada.

O mesmo se deu com as novas personagens da trama, o setor não branco da série, podemos assim classificar. Todas tiveram destaque e inseriram na narrativa choques de realidade necessários. Fazem parte desse grupo Seema Patel (Sarita Choudhury), Lisa Todd Wexley (Nicole Ari Parker), Nya Wallace (Karen Pittman) e Che Diaz (Sara Ramirez).

Nicole Ari Parker com Christopher Jackson em And Just Like That
Nicole Ari Parker com Christopher Jackson em And Just Like That

Duas histórias em particular merecem destaque. Com Lisa, And Just Like That… explorou a temática “a mulher pode tudo (só que não)”. Documentarista e mãe de três filhos, ela sofre para equilibrar as múltiplas vidas que toca, apesar de ser ricaça e ter muitas vantagens que outras mulheres em situações similares não desfrutam,

Lisa tem um parceiro, o marido Herbert Wexley (Christopher Jackson), que realmente faz jus à palavra parceiro, sempre apoiando a mulher. Mas não é suficiente e ela fica esgotada, caindo no sono sem controle durante o trabalho ou simplesmente quando está se arrumando para sair.

Essa jornada ficou explicitada no seu mais recente documentário, sobre mulheres pretas no mundo dos negócios, na educação e advocacia. O filme demorou oito anos para ficar pronto, justamente por ela ser casada e ter três filhos. Contudo, a demora poderia ser muito maior se não fosse o apoio do maridão. Em meio a isso, ela fica devastada ao saber que está grávida, logo quando o tal documentário está para decolar e exigirá sua total atenção.

Sara Ramirez na 2ª temporada de And Just Like That
Sara Ramirez na 2ª temporada de And Just Like That

Outra boa narrativa da segunda temporada de And Just Like That.. foi com a comediante não binária Che. A vida da personagem serve como total contraste ao trio protagonista, cujas vidas são pautadas pelo circuito dos endinheirados em Nova York, das lojas de grifes aos apartamentos espetaculares.

Depois de ter série rejeitada e ver a carreira de comediante perder o gás, Che precisou se virar nos 30 para pagar os boletos: passou a trabalhar como recepcionista de clínica veterinária. Che até pula o horário do almoço para aumentar a renda no final do mês, tamanho é o aperto financeiro. 

Chega a ser estranho, mas And Just Like That abriu espaço para uma pessoa que vive de salário em Nova York, sem dinheiro para comer nos restaurantes finos que a série tanto mostra.

Nessa nova leva, a continuação de Sex and The City amadureceu e deveria ser vista dessa forma. Contou com muitos momentos engraçados e reflexivos. Além disso, soube tratar bem o trio alicerce da história e não escorregou (como algumas séries fazem) na parte inclusiva e progressista da narrativa.


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