CHOQUE DE REALIDADE

Crítica: Amor da Minha Vida dá aula sobre a mediocridade da existência

Série nacional do Disney+ é (muito) mais do que Bruna Marquezine dançando de lingerie
REPRODUÇÃO/DISNEY+
Bruna Marquezine em cena de Amor da Minha Vida
Bruna Marquezine em cena de Amor da Minha Vida

O jovem imerso nas redes sociais e no mundo das séries de TV tende a ter uma visão distorcida da realidade. Afinal, nessas vitrines a vida é vendida como algo pleno, recheada de vitórias, sucesso, felicidade transbordante… Mas o cotidiano fora das telas é outro, podendo ser completamente inverso a tudo isso, e a série Amor da Minha Vida, disponível no Disney+, está aí para oferecer esse choque necessário.

A heroína da trama, vivida por Bruna Marquezine, está longe de ser uma mocinha que só se dá bem. Pelo contrário. Seja por causa de atitudes próprias ou circunstâncias, a atriz Bia, personagem de Bruna, é o puro suco do fracasso em diversos aspectos, no familiar, no amoroso, no profissional…

Ela vive em um apartamento cujo tema da decoração é cativeiro, como diz a um dos seus peguetes. A geladeira está de hora extra há tempo. Cama? Que tal um colchão no chão do quarto? Sem dinheiro no bolso para nada, tem de se humilhar em empregos para ter o que comer. 

Somam-se a isso as decepções acumuladas na tentativa de emplacar uma carreira de atriz/modelo, que não seja fazer comerciais patéticos ou estampar caixas de tinta de cabelo. A frustração invade a sua psique por nunca ser suficientemente boa para fazer algo relevante e satisfatório.

Isso, ou ao menos algo à margem, compõe boa parte da vida da maioria das pessoas, aquelas reais que não vivem mentindo nas redes sociais sobre a sua condição. Como o mundo do entretenimento serve para encantar, ser um escapismo, muitas séries fogem dessa fórmula, mostrando assim uma juventude adulta irreal, com pessoas extremamente alegres, em ótimos trabalhos, morando em apartamentos impossíveis e fazendo sexo cinematográfico.

Amor da Minha Vida apresenta uma trama madura e pé no chão, algo que condiz com fatos (evidentemente há situações um pouco fora da realidade para justificar dramas e mover a história ficcional). Lá pelas tantas, uma conversa de Bia com a sua mãe, interpretada por Cissa Guimarães, ilustra a mediocridade da vida.

Bia deixa o Rio de Janeiro durante alguns dias para visitar a mãe em Brasília. Lá, durante um papo rápido, a aspirante a atriz dispara uma mentira atrás da outra, sobre como estão as coisas na Cidade Maravilhosa. Ela diz que vários testes estão acontecendo, que o apartamento onde mora é “uma graça, super aconchegante”…

Mais tarde, quando estão em um drive-in assistindo a um filme de comédia, Bia não consegue manter a farsa e desabafa. Chorando, ela diz: “Eu sou um fracasso, mãe. Eu não tenho dinheiro. Eu menti.”

Bia fala que, nos testes, ela nunca é o que os diretores e produtores estão procurando. “Eu sou um ‘quase’”, a jovem desembucha. “Eu sou quase a mais bonita, quase a mais talentosa, quase a mais engraçada. Sou quase qualquer merda!”

Com vontade de desistir, por sentir-se estagnada, Bia não quer largar mão de tentar ser atriz, de se apaixonar por alguém, de ter uma relação estável e genuinamente boa. Caso contrário, “eu acho que eu vou ficar só existindo.”

Após ouvir tudo, a mãe de Bia, do alto de sua experiência, solta a real para a filha, dando uma lição importante, aquela que o público de Amor da Minha Vida tem de pegar, guardar na memória e refletir:

“A gente não escolhe as histórias de amor que a gente vai viver. Elas aparecem. Algumas são boas, ótimas. Algumas, não. Algumas são muito ruins. A gente se apega, filha, ao que a gente tem. Eu torço tanto para que minha filha fuja de tudo isso. Para que a sua vida tenha mais graça do que a minha, que não tem graça nenhuma. Porque a vida é assim, filha. A vida é assim, desse jeito. Ela é meio deprê, ela é muito chata. E a gente não tem ninguém para salvar a gente não.”

Por essas e outras, Amor da Minha Vida é mais do que as cenas de sexo virais, mais do que Bruna Marquezine dançando de lingerie, como parte do público tem superficialmente destacado por aí pela internet. É uma série que entrega o famigerado choque de realidade, para mostrar como a vida é sem o filtro e sem a edição das telas.

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