Sempre é bom valorizar produções do audiovisual que oferecem uma lição de vida útil, além de entreter. A série A Máquina do Destino se encaixa perfeitamente nesse quadro. Com a segunda temporada (novos episódios às quartas, no Apple TV+), a atração filosófica prova que é a comédia mais inteligente da TV na atualidade. E vira exemplo de como uma série deve ser desenvolvida.
A segunda temporada de qualquer atração tem um peso grande, principalmente quando a primeira é de alto nível, caso de A Máquina do Destino. É aquela maldição que assombra todo tipo de profissional do entretenimento, de cineasta a cantor/banda: não ser conhecido como artista de um único trabalho somente.
A Máquina do Destino driblou esse obstáculo e evoluiu. A trama avança na medida certa. Se a primeira temporada apresentou os personagens ao público enquanto descobriam o verdadeiro potencial de vida oferecido pela máquina Morpho, agora eles entram na segunda fase desse processo, o qual é encontrar o verdadeiro significado desse potencial, o que fazer com ele.
Com muita felicidade, a série insere o humor ao retratar questões dramáticas da vida, coisas que o público tem facilidade de se identificar: a morte de um parente, a mãe controladora, tensão no casamento, busca pelo verdadeiro amor, etc.
Isso tudo foi embaralhado pelo cartãozinho azul que a máquina Morpho entregou para os cidadãos da pequena cidade de Deerfield. O potencial de vida estampado ali se resume a uma única palavra, bastante vaga: músico, superstar, realeza, pai, entre outras.
A Morpho está pronta para a etapa seguinte. Agora, cada pessoa precisa injetar o cartão que recebeu de volta na máquina. Na tela, em um vídeo com gráfico tipo game de 32 bits, é revelada uma alegoria sobre o tal potencial de vida estampado no cartão.
Daí vem a grande sacada de gênio da segunda temporada. A história contada na tela após a leitura do cartão é como se fosse uma parábola. Não tem interpretação literal, logo, cada pessoa precisa pensar bem sobre o que aquilo quer dizer. Não basta saber seu potencial de vida, é preciso compreender o que fazer com ele.
E não é assim mesmo na realidade? Cada pessoa tem um potencial que, seja resultado de um teste vocacional ou não, muitas vezes se resume a uma palavra, como uma profissão. Com isso em mãos, a meta é realizar esse destino. Detalhe é que, desse ponto em diante, a coisa se complica.
Por isso, A Máquina do Destino acerta com seu humor bem dosado ao colocar os personagens em situações desconfortáveis ou até mesmo doloridas. Pode ser a saída para finalmente encontrar um caminho de satisfação e obter clareza nos pensamentos.
Hoje, na TV, não existe uma comédia tão sagaz assim. Ela merece toda a sua atenção.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br